Translate

quinta-feira, 3 de março de 2022

ELEGÂNCIA



A palavra elegância tem alguma coisa de envelhecido e fora de moda: mau sinal.

Não me refiro às roupas de grife, à ostentação de riqueza, aos gestos afetados. Isso é o contrário da elegância. É o brega.

A elegância é natural. Ela vem de dentro, é filha do respeito, da atenção para com o outro, da delicadeza em relação ao mundo que nos cerca. Não é fabricada. É orgânica.

Quando penso em elegância natural, vem à minha lembrança uma dupla de cantores que fez muito sucesso: Cascatinha e Inhana. Basta ver o vídeo acima, cantando a guarânia "Índia" para saber o que é a elegância natural.

Inhana, com seu xale em volta do pescoço, Cascatinha, no porte impecável de seu paletó, e sobretudo, a contenção dos gestos, a concentração na melodia, na articulação de cada palavra, sem contar a maravilhosa combinação da voz doce de Inhana sobre o tom rouco de Cascatinha. 

Eles herdam a postura caipira —não é um paradoxo, há uma admirável elegância caipira— do casal.

A noção de elegância, que se associa à delicadeza, é muito pensada como superficialidade, como barreira para algo mais profundo ou vigoroso, que seria reservado ao que é pesado ou mesmo à truculência. Isso é, evidentemente, falso. Como demonstram bem os escritores do século 18, como demonstram Proust ou Machado de Assis.

A perda da elegância, questão muito menos frívola do que parece, esse mar nauseabundo, malcheiroso, de vulgaridades que inundou o país, torna exceção os momentos de delicadeza.

Jorge Coli

Viver é Perigoso

Nenhum comentário: