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Carlos Henrique Santana |
Interessante a coluna do Uirá Machado, na Folha de ontem (17).
Existem muitas maneiras de explicar a vitória do Jair na eleição de 2018. A do cientista político Carlos Henrique Santana envolve o que ele chama de "tríade perversa": três grandes tendências que se alimentaram mutuamente e produziram efeitos contrários ao esperado.
Em uma pesquisa acadêmica, Santana analisou 29 variáveis na eleição de 2018, observando quais favoreceram cada candidato. De acordo com ele, que fez o estudo em parceria com a economista Marcela Nogueira Ferrario, os dados indicam que a classe média eleitora de do Jair foi iludida. "Ela aderiu ao antipartidarismo e ao antipetismo contra os seus próprios interesses."
Explica o cientista político:
No período que antecedeu a eleição de 2018, nós vivemos um acirramento político motivado principalmente pelo que eu chamei de tríade perversa:
- as investigações sobre corrupção;
- a transição demográfica religiosa, com o aumento da população evangélica;
- a importância crescente das redes sociais.
São três grandes tendências que ocorreram de forma simultânea e que se alimentaram mutuamente. E por que tríade perversa? Porque em geral esses três elementos trariam consigo pressupostos positivos para a transformação da coisa pública:
- consolidação do controle sobre a corrupção
- maior participação política por meio das redes sociais
- uma ideia difusa de que o eleitor evangélico tenderia a uma visão mais responsável em relação a sua própria vida.
E notamos que essas hipóteses não apenas se frustraram, mas na verdade trouxeram efeitos opostos.
- A Lava Jato, por exemplo, resultou numa enorme degradação institucional, enquanto o próprio sistema de investigação se revelou frágil, para não dizer que trouxe elementos eles mesmos corruptos em termos de mecanismos procedimentais.
- A participação política por meio das redes sociais, por sua vez, tem revelado uma tendência bastante controversa, difícil de se sustentar se nós quisermos pensar na participação construtiva em termos de democracia, de cidadania.
- A ação das igrejas evangélicas também se revelou predatória do ponto de vista parlamentar e de sua atuação na esfera política.
A combinação desses três fatores produziu um quase colapso institucional que levou o eleitor médio brasileiro a desconfiar não só dos partidos tradicionais, entre eles o PT, mas também a desconfiar da própria democracia, do Estado de Direito, das instituições, o que foi e é muito perigoso.
Viver é Perigoso