Baile beneficente no salão de festas de um colégio em Brazópolis.
Janeiro chuvoso no início dos anos 60.
No palco o Conjunto pop (na época poucos sabiam o que significava isso. Hoje, todos sabem que é tudo o que toca),Cry Babyes, de Saõ José dos Campos. Garantia de boa música.
Como ninguém da engenharia tinha carro (privilégio dos magnatas da medicina), o jeito foi organizar uma lotação numa kombi. Umas 38 pessoas bem acomodadas.
Todos, exceto o motorista, de terno com calça "pega-frango" e gravatinha de cadarço. Era a moda.
Imperando no ar, água velva e perfume lancaster.
Uns quatro vivaldinos quiseram economizar a grana do ingresso e entrar pelos fundos do colégio. Era só saltar um murinho de nada.
Realmente. Do lado que dava para a rua, o muro tinha pouco mais que metro e meio de altura.
A escuridão ajudava, embora provocasse certa insegurança.
Os dez contos do ingresso seriam dedicados ao hi-fi e a cuba-libre. Muita classe.
O primeiro a saltar foi o intrépido Zé Moreira.
PQP ! Torna-se necessário um esclarecimento:
O muro fora construído na beira de um barranco (morros é que não faltam em Brazópolis). Se do lado da rua tinha 1,5 metros, do lado de dentro, que dava para o pátio do colégio, tinha uns 6 metros de altura.
Quando o Zé pressentiu a desgraça, foi agarrando desesperado na vegetação que cobria o paredão, constituida de frondoso chuchuzeiro e trepadeiras diversas, algumas dotadas de salientes espinhos.
O agarra-agarra diminuiu a velocidade de queda.
O barrão vermelho tornou o chão macio evitou que acontecesse maiores danos físicos.
O Celso, que seria o próximo a saltar, assustado com o barulho, gritou baixinho:
- Tudo bem ? Lá vou eu !
Foi quando o leal e sincero Zé Moreira berrou, ainda estatelado lá em baixo:
- Não vem que é longe.
É a vida...
ER