Há alguns anos, numa passagem a trabalho em São Paulo, fiquei sabendo que um grande amigo de Itajubá estava internado no Hospital Dante Pazzanese. Fui até lá. A situação do enfermo era complicada. Visitas proibidas. Informações incompletas na recepção. Ninguém da família naquele momento.
Fiquei preocupado. Um jovem médico que ouviu minha conversa na recepção, me chamou até uma saleta e disse: O Senhor tem cara de médico. Vista esse jaleco, carregue essa prancheta e vá até a UTI no andar tal onde está o seu amigo. Assim o fiz, cruzando no elevador e corredores com vários "colegas".
No quarto haviam umas seis pessoas internadas e ligadas a aparelhos. Localizei o meu amigo no último leito encostado na parede. Postei-me em pé e passei a observá-lo em silêncio, curtindo toda a admiração e respeito que tinha por ele.
Em alguns minutos, o amigo abriu lentamente os olhos, fitando-me com natural desânimo. Abaixei-me um pouco e lhe disse:
- O Senhor que tome cuidado e não abuse mais dos deliciosos salgadinhos do Vadinho.
Ele ouviu, assustou-se, prestou atenção e me reconhecendo esboçou um largo sorriso. Com todo o cuidado, face aos tubos e fios ligados, demos um inesquecível abraço, com ele murmurando o apelido pelo qual sempre me chamou: Camarada !
Na sequência, foi transferido para o Sírio Libanês, onde se recuperou.
Doravante, em todos os nossos encontros esporádicos pela cidade, trocávamos um abraço afetuoso e o tradicional cumprimento: Camarada. Os seu olhos e muitas vezes os meus, marejavam de lágrimas.
Hoje recebo a triste notícia que o meu amigo querido, homem de bem, figura impar na sociedade itajubense, tomou o barco.
Vá com Deus, Camarada Jean Mohallem.
Viver é Perigoso