Num discurso no mesmo púlpito que foi usado pelo brasileiro Bolsonaro, a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Mottley, abandonou o texto que havia sido preparado por seu serviço diplomático e chacoalhou a Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Mia Amor Mottley subiu ao pódio, na sexta-feira, determinada a dizer o que líderes queriam evitar escutar.
Ela foi clara: não iria repetir discursos. E lançou:
"quantas vezes mais teremos então uma situação em que dizemos a mesma coisa repetidas vezes, para não chegarmos a nada?". "Meus amigos, não podemos mais fazer isso".
Ela evocou Bob Marley: "Who will get up and stand up?". Em um português claro:
Quem se levantará?".
Quem se levantará e defenderá os direitos de nosso povo?
Quem se levantará em nome de todos aqueles que morreram durante esta terrível pandemia? São milhões. Quem se levantará em nome de todos aqueles que morreram por causa da crise climática ?
Quantas mais variantes do covid-19 devem chegar, quantas mais, antes que um plano de ação mundial de vacinação seja implementado"?
Quantas mais mortes devem ocorrer antes que 1,7 bilhão de vacinas em excesso na posse dos países avançados do mundo sejam compartilhadas com aqueles que simplesmente não têm acesso?
Temos os meios para dar a cada criança deste planeta um comprimido. E temos os meios para dar a cada adulto uma vacina. Temos os meios para investir na proteção dos mais vulneráveis em nosso planeta contra uma mudança no clima. Mas optamos por não fazê-lo. E não é porque não temos o suficiente, é porque não temos a vontade de distribuir o que temos
Quantos mais aumentos globais de temperatura devem ocorrer antes de acabarmos com a queima de combustíveis fósseis?
Quanto mais o nível do mar deve subir em pequenos estados insulares antes que aqueles que lucraram com o armazenamento de gases de efeito estufa contribuam para as perdas e danos que ocasionaram ?
Ela ainda completou:
Se conseguirmos encontrar a vontade de enviar pessoas à lua e resolver a calvície masculina, poderemos resolver problemas simples como deixar nosso povo comer a preços acessíveis.
Jamil Chade
Viver é Perigoso