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quinta-feira, 4 de março de 2021

A HORA MAIS AMARGA



A incompetência – A incompetência é o lado mais visível da devastação. Não há vacinas, não há insumos para a sua produção, não há leitos de UTI suficientes, não há oxigênio em algumas cidades. No momento de tomar iniciativas meses atrás, demitiu ministros que tinham noção da gravidade da situação e os substituiu por um que só obedece, dando tempo para o vírus produzir os seus efeitos. Ode à irracionalidade.

A destruição – O resultado é a destruição. Vidas são perdidas, o medo da morte se generaliza, as pessoas se perguntam pelo amanhã, anseiam pela volta de uma normalidade perdida. E a perda se reflete no emprego, no nível de vida, na miséria hoje vivida por boa parte da população. Se o auxílio emergencial vier – e deveria moralmente vir –, parece que o será por razões eleitorais, e não por compaixão ao próximo.
Quanto mais o País afunda, mais é dito que tudo é fruto de más notícias, da imprensa e da mídia tradicional, como se dizer a verdade, expor o que está realmente acontecendo, fosse o maior dos males. Bem e mal trocaram da posição.

A poção mágica – O País regrediu a rituais mágicos. Enquanto a devastação progride e a morte se alastra, foi-nos oferecido uma poção mágica, coquetel de medicamentos inúteis para o tratamento da covid-19. Deu-se até um nome a isso, “tratamento precoce”. 
Voltamos a um mundo medieval de drogas milagrosas com mercadores ambulantes que tudo prometem e nada fazem senão vagar para o próximo embuste. O Brasil tornou-se uma ilha de insanidade no mundo!

A emulação – Governantes devem dar o exemplo, que se multiplica no comportamento dos seus cidadãos. Bons exemplos produzem atitudes correspondentes; maus comportamentos criam os seus próprios. Se a ciência é desprezada ostensivamente, ganha curso um vale-tudo na população. 
Comportamento, propagando a destruição como se fosse a nova normalidade, o que foi chamado de “nova política”. Essa forma de congraçamento no desprezo do outro, na ausência de solidariedade, tem o seu contrapeso na identificação com o líder e na fraternidade dos companheiros na pulsão de morte.

O juízo final – O espetáculo é aterrador. O vírus avança, sem limites, “contente da vida”, encontrando nos humanos a sua melhor forma de reprodução. Ele encontra uma “solidariedade” do avesso nos governantes que lhe deixam agir livremente, como se a liberdade fosse a devastação generalizada. Enquanto isso, as pessoas festejam nas ruas e praias, em bares e cafés, como se nada mais restasse senão dançar e cantar antes que a destruição encontre o seu ápice. 
A imagem bíblica que vem à mente é a de uma espécie de juízo final se aproximando, como se nada mais pudesse ser feito, como se nada mais fosse digno de esperar, como se ainda fosse possível uma “imunidade de rebanho”, na verdade um rebanho de humanos tomados pela insanidade.

A esperança hoje reside na volta à racionalidade.

Denis Lerrer Rosenfield

Viver é Perigoso

MOÇA BONITA


Chloé Andélia Wofford, simplesmente, Toni Morrison. Escritora americana, que se estivesse entre nós, teria completado 90 anos em fevereiro último. Ela tomou o barco em Nova York em agosto/2019.

Escreveu Toni Morrison:

"Eu sei que o mundo está machucado e sangrando, e embora seja importante não ignorar sua dor, também é crítico se recusar a sucumbir à sua malevolência. Como o fracasso, o caos contém informações que podem levar ao conhecimento - e até à sabedoria. Assim como arte."

Escreveu o "Olho mais azul", os "Amada/ Jazz/ Paraíso", "Deus ajude essa criança", "Sula","Aorigem dos outros", entre outros. 

Morrison, foi a primeira escritora negra a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Também recebeu o Prêmio Pulitzer. 

Viver é Perigoso

CANTINHO DA SALA

 


Rabiscos de 2006, pensando no admirado amigo Professor José Célio, imaginando-o fixado num "cantinho" de sala do CELIL, Curso de Idiomas. Nome: Páginas da Vida. Por acanhamento do autor, nunca foi entregue. Já la vão 15 anos. Atualmente no MAM-BV.

John Chair

Viver é Perigoso

RECOLHAM O ELEMENTO


 

No que depender de mim, nunca teremos lockdown. Nunca.”

Bolsonaro

Viver é Perigoso

Blog: Será que não tem uma alma boa, um parente, um religioso, que o alerte, que lockdown não é um remédio, não é uma ação definitiva. É um recurso extremo para aliviar, UTI´s e enfermarias lotadas, equipamentos e insumos em falta ou esgotados. Equipes de atendimento exaustas, tendo que decidir madrugada adentro, quem irá viver e quem não. 

Viver é Perigoso

   

A INVASÃO

Roberto DaMatta, escreveu hoje:

A crise instiga a imaginação.

A mais surreal seria imaginar o Brasil invadido por um país estrangeiro e sendo obrigado a defender-se e a declarar guerra ao inimigo.

A julgar pela caótica reação à covid e aos seus exércitos invasores, ao tempo que o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e a opinião pública (obviamente dividida entre declarar ou não guerra ao invasor) se entendessem, o país já estaria falando o idioma do solerte inimigo. 

Pior que isso, mas igualmente plausível, seria testemunhar o governo comprando armas ultramodernas, mas esquecendo da munição porque o comandante negava a guerra. O mais claro surrealismo, porém, seria ver o líder supremo das forças nacionais zombar do poder do ofensor (que teria tomado a Amazônia), comentando que se trata de uma “invasãozinha”.

É minha impressão, ou estamos vivendo um texto de George Orwell? Mentir é verdade, vigarice é legalidade, confusão é lucidez, morte é vida, derrota é vitória, doença é cura.

Viver é Perigoso