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domingo, 17 de abril de 2022

AGUENTA AÍ QUE EU JÁ VOU

 


Escreveu Voltaire Souza

Calma. Descanso. Reflexão.

Celsinho precisava de um descanso.

–Esse feriado veio em boa hora.

A crise afetara muito os nervos do rapaz.

–Estou de dívidas até o pescoço.

A família da namorada tinha um sítio perto de Jundiaí.

A Semana Santa começou numa boa.

–Caipirinha e churrasco. Tudo por conta do sogrão.

A namorada se chamava Geórgia.

–Amor, não bebe demais…

Ela se preocupava com a reputação de Celsinho.

Que já estava na terceira dose.

–Haha. Até parece que seu pai vai ligar.

–Não sei, Celsinho… a gente está junto faz pouco tempo.

–Mas já deu para ver que ele é o maior pinguço… haha.

Geórgia suspirou.

–Fazer o quê. Ele anda tão estressado…

Uma nuvem passava pela mente de Celsinho.

–Culpa desse governo desgraçado.

Covid. Inflação. Roubalheira.

–Pensar que eu votei nesse babaca.

Era forte o arrependimento do pequeno empresário.

–Não sei onde eu estava com a cabeça.

Os familiares de Geórgia concordavam.

–Aqui na nossa família ninguém votou nesse cretino.

–Pois é. Pois é. O senhor é que estava certo, dr. Fracaroli.

Celsinho aceitou mais uma caipirinha.

–É pinga da região?

–Isso. Aqui pertinho.

O pai de Geórgia apontou para algumas colinas verdejantes.

–Dali para frente, é só cana.

Celsinho fixou o olhar numa estreita faixa rodoviária.

Ouvia-se o rumor triunfal de milhares de motores.

Velocidade. Fumaça. Mobilização.

–Que é aquilo?

Era a motociata do presidente Jair.

–Nossa… eles estão chegando perto.

–A estrada faz uma curva logo ali.

Capacetes. Bandeiras. Jaquetas pretas.

Celsinho engoliu o que restava do copo.

–Espera. Espera aí.

Sonhos. Entusiasmos. Ilusões.

Ele não se conteve.

–Eu vou junto. Eu vou junto.

–Mas, Celsinho… você não disse que…

O rapaz já estava em cima da moto.

–Jairrrrrrrrrr... espera por miiim…

O acidente de moto teve lugar num mata-burro logo na divisa do sítio.

–O que será que deu nele?

–É bom sinal, Geórgia. Vai ser sempre um marido fiel. Com certeza.

Celsinho se recupera bem num hospital da região.

Arrependimentos acontecem.

Mas é como dizem no interior.

O burro empaca, mas sempre encontra o caminho de casa.

FSP

Viver é Perigoso


FALOU E DISSE :



"...Imagine se o futebol brasileiro tivesse um calendário melhor e se as pessoas se preocupassem mais com a beleza do espetáculo. Imagine se o mundo fosse mais generoso, se a seleção brasileira tivesse um centroavante, como Benzema, Ronaldo, Romário ou Reinaldo, se Dirceu Lopes voltasse à juventude e ajudasse o Cruzeiro a retornar à Série A, se o Brasil tivesse um presidente, ou presidenta, independente, sonhador, transparente e com ótimas e novas ideias."

Tostão - Folha de São Paulo

Viver é Perigoso

PORQUE ELE VIVE


No início dos anos 80, quando morávamos em Manaus, fomos convidados pelo Pastor da Iª Igreja Presbiteriana de Manaus, Pastor Caio Fábio (o pai), para irmos no encontro que iria acontecer, num domingo de páscoa, como hoje, às 05:00 horas da manhã, numa Praça ampla de Manaus, conhecida como "Bola da Suframa". Na verdade, uma rotatória em aclive, com enorme área gramada.

Lá fui e ainda estava escuro quando cheguei. Centenas de pessoas. sentadas e espalhadas pelo gramado. Famílias inteiras, pareciam em oração. Fiz o mesmo.

Passados uns tantos minutos e o sol veio surgindo espetacularmente. O sol de Manaus é sol mesmo. Não surge com nenhuma timidez. Surge com toda a sua força de Astro - Rei.

Em pé, com sua barba branca tocada pela leve brisa matinal que soprava, na certa vinda do encontro do Rio Negro com o Solimões, no nascimento do Rio do Amazonas, que ficava próximo, suportado por um par de muletas que sempre o acompanhava, o Pastor Caio Fábio, saudou a ressurreição de Cristo.

De forma mágica todos foram cobertos por uma nuvem de alegria. As pessoas riam, se abraçavam e pasmem, algumas até dançavam.

Depois que se fez silêncio, não completo, pelo ruidoso barulho de algumas crianças, disse o Pastor:

Porque ELE vive, está afastado o temor do amanhã. Cabe-nos, tornar homens novos.

Bons tempos.

Só por Deus. Como tornar-nos homens novos no meio de tantas frentes de batalhas. Como recolher uma espada já erguida ? Como queimar planos estratégicos de defesa e ataque já traçados ?

Muito mais fácil vestirmos trajes de perseguidos, injustiçados, injuriados e coitadinhos. Como é difícil sorrir, estender as mãos, relevar e a maior das dificuldades, pedir perdão.

Mas já que transformar em homens novos, por nós mesmos, fica quase impossível e já estamos envergonhados de tanto repetir o pedido para o PAI, vamos fazer como Caim e tentar nos esconder.

Ou como sempre acontece, transformarmos a partir de hoje, pelo menos até segunda ou terça-feira, num homem medianamente novo.

Deus tenha piedade daquele que tem consciência do que tem que ser feito e não o faz, entre os quais eu me incluo.

Mas que pode ser diferente, ah! isso pode.

Viver é Perigoso

COELHINHO

 

Viver é Perigoso