Não era, por natureza e vontade, um jornalista
investigativo. Sempre bem informado, culto e o mais inteligente em sua época,
Paulo Francis morreu quando estava sendo processado nos Estados Unidos, morte
quase súbita, após um período de depressão.
Ele vinha fazendo severas acusações ao pessoal da cúpula da Petrobras, que
estaria enriquecendo por conta de negócios criminosos relativos à compra de
equipamentos na área do petróleo.
Não sendo investigativo, não juntou provas,
mas, de alguma forma, sabia de escândalos assombrosos naquela estatal.
O processo corria na Justiça norte-americana, famosa por sua rigidez em casos
de multa por infâmia e ofensas morais.
Todos sabíamos que Paulo Francis, apesar dos bons e merecidos salários que
recebia, não teria recursos para pagar a astronômica indenização que eficientes
advogados de Nova York, pagos pela Petrobras, haviam pedido por conta das suas
acusações. Acabrunhado, sem cobertura na mídia, mal atendido por um médico
brasileiro radicado nos Estados Unidos, o coração de Paulo não aguentou.
Março de 2014. Mal refeita do escândalo do mensalão, a sociedade toma
conhecimento de um escândalo maior e mais imoral. Apesar de dona Dilma ocupar à
época a Casa Civil e presidir o Conselho de Administração da Petrobras, tal como
Lula no caso do mensalão, não sabia de nada. A refinaria de Pasadena comprada
por preço absurdo –mais de oito vezes o seu valor no mercado– deu para
enriquecer muita gente dentro e fora da Petrobras.
Nos anos 90, Paulo fez um comentário sobre o enriquecimento de alguns
funcionários da nossa maior empresa estatal em um programa de televisão. Repito:
Paulo não era investigativo, mas era inteligente e bem informado.
Carlos Heitor Cony (P/ Folha)