Em 1971, indicados pelo grande amigo e engenheiro, Dalton Barbosa, um grupo de estudantes, da então Efei, realizou estágio de férias na Companhia Brasileira de Alumínio, na cidade de Alumínio.
A CBA, como era costume na época, cedeu um apartamento para a rapaziada se hospedar durante os 45 ou 60 dias do estágio. Ficava localizado num sobrado, em cima da padaria, tendo a pacata delegacia nos fundos.
Dava para ouvir tudo o que acontecia.
Numa noite, guardaram na cela um cara bêbado. Talvez, encher a cara fosse o seu único mal.
Pois bem, assim que o policial se afastou, possivelmente indo dormir, o pau dágua começou a bater a caneca de alumínio nas grades e a proferir desaforos.
Xingou a família toda do policial. Não escaparam das batatadas, criativas por sinal, a mãe, o pai, a mulher, os filhos e os avós. Dedicou uma louvação especial para a pessoa do polícia.
Começou ali pelas 23:00 horas e foi até às 07:00 da manhã, quando começou o expediente na delegacia.
Ninguém conseguiu dormir no apartamento. A moçada nova e sem experiência de vida, não se sentiu indignada com a balburdia noturna. Pelo contrário. Todos expressavam grande admiração pela coragem do preso, que em plena ditadura atravessou a noite a desancar, além do guarda e familiares, o próprio Presidente Médici.
Durou pouco a admiração pelo prisioneiro. Pela manhã, o guarda chegou e berrando pedia a confirmação dos insultos.
Respondeu o valente com uma vozinha vinda lá das profundezas:
- Que isso seu guarda ! O senhor vai dar confiança para conversa de tonto ?
A história se repete, desta vez mais longe:
- Que isso Senhor Juiz. Eu não ofendi ninguém. Sou do bem. Estava sob remédios fortes. Apertei o bom de compartilhar ao invés de salvar.
Viver é Perigoso