Nunca usei na vida chinelos de borracha, desses como uma tirinha separando o dedão do segundo. Sinto cócegas. Incomodam.
Como pequeno luxo, desde ainda jovem, uso Birkenstock. Para os desligados, trata-se de um calçado alemão fabricado desde 1774. Na realidade trata-se de chinelos que vestem os pés. Duram uma eternidade e não são caros na Alemanha.
Vez por outra os meus filhos, quando viajam, me trazem de presente um par de presente. Pelos meus cálculos já estou abastecido até quando já estiver no paraíso.
Mas, um dia aconteceu.
Numa manhã de domingo, após passar pela Agência do Banco do Brasil, tentei atravessar a Praça Adolfo Olinto (que para mim teria o seu nome alterado para Praça Dona Onofrina e Dr. Rodolfo Ferreira - grandes amigos), para alcançar a Banca de Jornais.
Como diria o Napoleão Bonaparte, foi o meu Waterloo.
Como todo morador na terrinha sabe, o piso da aprazível praça não é para ser encarado por amadores. Pedras de mão de tamanhos diversos e faces irregulares proporcionam um desconforto ao transeunte. Como se estivéssemos caminhando sobre um gigantesco "pé-de-moleque" (inteiro e não moído).
Tropecei, com o chinelo mal ajustado, na primeira pedra.
Seria bom se tivesse caído. Mas não caí, pelo menos no primeiro momento.
Ridiculamente fui tentando me equilibrar, meio de lado, meio de quatro, vezes com uma das mãos no chão e outras não.
Avancei naquela patética situação, no meu sentimento, pelo menos uns 500 metros e com tempo de duração de uma eternidade.
Até que um banco de cimento amigo me serviu de apoio e acolheu totalmente resfolegante. Minha primeira e única preocupação foi girar o olhar pelos arredores preocupado com testemunhas.
Alívio. Nenhuma viva alma.
Lamento, mas é como vejo o Brasil hoje. Tropeçou há praticamente 12 anos e segue catando cavaco. Não cai de vez, mas também não ergue.
Talvez falte encontrar um banco.
Viver é Perigoso