Na cultura alimentar da família pouco ficou do espanhol Jayme Riera. Muito (ou quase tudo) ficou da Vó italiana Térça Tredicce Riera.
Aos domingos, já na casa dos meus pais, o almoço com toda a família reunida era sagrado. Onze filhos sentados à mesa e sempre mais alguns primos e tios. Enorme mesa para 16 pessoas.
Cardápio invariável: Macarronada com molho vermelho (massa caseira), arroz de forno, frango refogado na panela e pernil (com osso) assado no forno da Padaria Boa Vista. Farofa de farinha de milho, com ovos e miúdos de franfo.
O pai se servia na frente, como dando ordem para o ataque sempre educado da tropa.
Nada verde sobre a mesa. Saladas, alfaces, maionese, etc, são frescuras da modernidade.
Cada criança com o seu guaranazinho caçula da Antartica à frente. (um para cada um e olhe lá). Os adultos dividiam uma cerveja Faixa Azul ou Malzibier. Vez por outra um copo do terrível vinho Único (rótulo preto).
Nada sobrava nos pratos exceto uns ossinhos ou tirinha de cebola ajeitados num cantinho.
Ah! Sagrado: Antes de tudo a oração de graças. Todos com os olhos cerrados.
A cerimônia ia longe, com risos, comentários e reprimendas leves.
Sobremesa divina: potinhos individuais de arroz doce cobertos com ligeira camada de canela em pó.
Foi preciso tanto tempo para descobrir que o gostoso e maravilhoso não estava nos pratos.
Estava na reunião de pessoas tão caras.
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