Dr. Nagib ia bem como médico clínico geral na pequena São
Gonçalo.
Com o tempo passando, ele resolveu fazer um curso de
aperfeiçoamento em São Paulo. Foi sem marcar nada, dizendo: o curso que tiver
nesta semana eu faço, afinal, o que abunda não prejudica.
Instalou-se em uma pensão perto das clínicas e matriculou-se
no único curso aberto para aquela semana. "Técnicas de Amputação". Não perdeu um
minuto de aula, principalmente as aulas práticas. No fundo, lembrava-se um pouco
do velho Sr. Chucre, seu querido Avô (já falecido), que foi um açougueiro de mão
cheia.
Logicamente, quando voltou para São Gonçalo, quis colocar em
prática o aprendizado, uma vez que comprara na capital todo o equipamento
necessário, desde serras, facões, serrotes, martelos, etc. Tudo o que tinha
direito, em aço inox alemão.
Na primeira semana, dois casos bons para aplicação da nova
técnica. Uma picada de escorpião na mão e aparece a primeira mulher maneta na
cidade. Uma unha do dedão encravada e o velho fazendeiro ficou com nove
dedos.
Passado uns tempos, era impossível andar pela pracinha
principal ou ir à missa sem observar as pegadas da técnica do Dr. Nagib. O Padre
fazia das tripas o coração para realizar a missa com um braço só.
Aconteceu o que aconteceu... O povo começou a ficar assustado
e as mães recomendavam: Não vá consultar com o "Turco"- como eles o chamavam
por detrás-porque ele vai cortar alguma coisa.
A Clientela diminuindo foi chateando o Dr. Nagib, que fazia
todos os esforços para tirar aquela impressão negativa, porém não totalmente
falsa.
Um dia, com a sala de espera de sua clínica lotada pela
epidemia de gripe, aconteceu.
O Sr. Delmiro, que fabricava tijolos, foi fazer a entrega de
uma carrada no seu caminhãozinho Ford. Como sempre ia contando histórias da
velha Calábria para o seu ajudante Laurindo. Tinha o hábito de só falar
gesticulando os braços.
Fazendo a velocidade máxima (50 kms/hora), ao passar muito
próximo a um poste de ferro da Cia. telefônica, ocorreu o acidente. O braço
esquerdo ficou lá atrás na poeira, com a aliança e o relógio Seiko.
Mais do que depressa, o Laurindo desceu, achou, deu uma
limpada e enrolando o bração cabeludo e vermelho do Sr. Delmiro na própria
camisa, mandou ele tocar para a clínica do Dr. Nagib, que ficava próximo.
Entraram correndo, passaram direto pela recepção, sala de
espera e se postaram frente a frente ao Dr. Nagib para as providências do
reimplante.
O Dr. Nagib, enquanto mandava a enfermeira Lourdes aplicar
uma anestesia na vítima e dar uma limpada geral, apanhou o braço solto do
Delmiro, foi até a sala de espera lotada e assustada com a cena e disse em alto
e bom som:
Todos estão vendo que o Delmiro já chegou aqui sem braço, ok?
Prestem bem atenção, desembrulhando o bração do Delmiro para todos verem. Uma
senhora desmaiou.
Depois vão sair por aí falando de mim. Ficou claro ? Ele já
entrou aqui sem !
(vivereperigoso/2009)
ER