Se quisermos preservar a integridade da função pública, nós poderíamos estar em posição muito melhor se eliminássemos de uma vez todo tipo de eleição.
Se você acha que isto soa antidemocrático, pense outra vez. Os gregos antigos inventaram a democracia, e em Atenas muitas autoridades do governo eram selecionadas por meio de sorteio — uma loteria aleatória entre um conjunto de candidatos. Nós já usamos um tipo de sorteio para selecionar jurados. E se nós fizéssemos o mesmo com prefeitos, governadores, legisladores, ministros do STF e até presidentes?
As pessoas acham que líderes escolhidos aleatoriamente são menos eficazes do que os determinados sistematicamente. Mas em múltiplos experimentos conduzidos pelo psicólogo Alexander Haslam, o oposto mostrou-se verdade. Os grupos na realidade tomaram decisões mais inteligentes quando seus líderes foram escolhidos aleatoriamente do que quando eleitos por seus membros ou escolhidos com base em sua capacidade de liderança.
Por que líderes escolhidos aleatoriamente são mais eficazes? Eles lideram mais democraticamente. “Líderes eleitos sistematicamente podem subverter objetivos do grupo”, sugerem Haslam e seus colegas, porque têm uma tendência a “afirmar sua superioridade pessoal”. Quando um líder é ungido pelo grupo, o poder pode facilmente lhe subir à cabeça: eu sou o escolhido.
Quando um indivíduo sabe que foi escolhido aleatoriamente, ele não experimenta poder suficiente para se corromper. Em vez disso, sente uma responsabilidade realçada: eu não fiz nada para conquistar essa função, portanto preciso trabalhar para representar bem o grupo. E em um dos experimentos de Haslam, quando um líder é escolhido aleatoriamente, os membros tendem mais a apoiar as decisões do grupo.
A preocupação imediata é capacidade: como podemos garantir que cidadãos escolhidos aleatoriamente serão capazes de governar?
Na Atenas antiga, os cidadãos podiam escolher se participavam ou não do sorteio — e também tinham de ser aprovados em um exame a respeito de sua capacidade de exercer funções públicas e fazer valer direitos.
Um sistema de sorteios também melhoraria nossas chances de evitar os piores candidatos em primeiro lugar. As pessoas mais atraídas ao poder são normalmente as menos capazes de exercê-lo.
As características mais perigosas em um líder são o que os psicólogos chamam de tríade de traços obscuros de personalidade: narcisismo, maquiavelismo e psicopatia. Pessoas com esses traços têm em comum a disposição de explorar os outros para ganhos pessoais. Pessoas com a tríade obscura de traços tendem a ser mais ambiciosas politicamente — são atraídas à autoridade por si só. Mas nós com frequência nos encantamos com elas.
Se uma pessoa com a tríade obscura ganha uma eleição, todos nós saímos perdendo.
Eliminar as votações faria com que candidatos com a tríade de traços obscuros tivessem menos chance do que agora de ascender ao topo do poder. Evidentemente há também o risco de o sorteio nos privar da oportunidade de selecionar um líder com capacidades distintivas. Neste momento, este é um risco que eu estou disposto a correr.
Os sorteios dariam chance justa para indivíduos que não são altos o suficiente nem másculos o suficiente para concorrer. Também abririam a porta para pessoas que não têm conexões suficientes concorrer.
Mudar para um sistema de sorteios teria também poupado muito dinheiro. Campanhas custam muito. E se não houver campanhas, não haverá interesses especiais oferecendo-se para pagar por elas.
Finalmente, a inexistência das eleições também põe fim ao espaço para manipulação e às disputas no Colégio Eleitoral. Em vez de questionar se milhões de votos foram contados corretamente, nós assistiríamos essa loteria correr ao vivo.
Adam Grant
Blog: Sei não, mas acho que pode ser uma boa. Pior do que está, certamente, não será.
Viver é Perigoso