Aconteceu numa quarta-feira, dia 10 de junho de 1959, a inauguração do Cine Presidente. Por que Presidente ? Uma homenagem do proprietário, Sr. Ailton Rennó, ao vizinho do cinema, Presidente Wenceslau Braz.
"Viva o Palhaço" foi o filme da estreia. Estrelando, Danny Kaye e a linda italiana Pier Angeli.
Bert Kaempfert foi um músico, compositor e líder de orquestra de grande sucesso, nascido em Hamburgo, na Alemanha em 1926 e vindo a falecer de forma repentina na dia 21 de junho de 1980. Sua obra é extensa e de caráter original, recebeu influência de grandes bandas de jazz norte-americanas. Tomou o barco em 1980.
Foi o músico do Cine Presidente. Isto é, nos momentos (trinta minutos) que antecediam as sessões (durante a semana iniciava às 20:15 horas e nos domingos, 16:15, 19:00 e 21:00 horas), o LP do Bert Kaempfert girava dos dois lados. E era bom.
O maestro alemão foi testemunha de diversos primeiros "contatos imediatos de terceiro grau" (segurar nas mãos) de muitos "entas" da terrinha.
Era sagrado: Saquinho de pipoca comprado na esquina do Pé de Porco e um drops na Bombonière do cinema, que era careira prá dedéu (ou tínhamos pouco dinheiro).
Entrar e sentar antes da sessão começar era um programa imperdível.
Quem estava namorando quem ?
O que ? Já com o braço por sobre os ombros da namorada ? Já deve estar noivo.
E a ex-namorada entrando "de bonde" com o seu novo namorado ? Era o fim do mundo. Primeiro sentimento de vingança.
Quer matar a saudade ? Vá no mesmo endereço, sente num dos sofás em exposição para venda, feche os olhos e não se importe com a insistência do atendente das Casas Pernambucanas.
A felicidade não é tão cara
Nem foi um dia,
Custava apenas o preço justo
De uma meia entrada de cinema
De uma sessão de domingo
A das quatro da tarde
Do Cine Presidente,
Anos sessenta e setenta
Regada a música antes dos filmes
Coisas do tipo “Os pobres de Paris”
Adoçadas pelas balas do seu Moysés
Repleta de flertes e conversas diversas.
O mundo se encerrava ali
Mas não começava ali,
Havia a ansiedade da espera.
Foi um pedaço da vida
De romantismo ingênuo
Dóris Day, Jerry Lewis, Quo Vadis…
Roma era mais perto que o Morro Chic
Estava ali na tela.
O mundo lá fora era generoso
Os problemas não existiam
Os que existiam eram problemas dos outros
Depois do cinema o footing na praça
Radio City, picolé de coco queimado
A menina de vestido branco
De olhos negros tímidos e marcantes.
A felicidade estava presa ali
Esperando por nós, no próximo domingo
Triste alegria, o mundo mudou
O Presidente fechou
Os problemas dos outros agora,
Há muito são nossos.
Paulo Rennó
Viver é Perigoso