Querido amigo Grego,
Crescemos juntos na Boa Vista. Estudamos juntos no curso primário e no ginásio do Colégio Itajubá, sempre maus alunos, isso temos que reconhecer. Caminhamos lado a lado, sempre nos falando pouco mas nos entendendo muito. Duas coisas nunca compreendi: Você nunca se interessou em aprender nadar e a dirigir automóveis.
Estudei engenharia em Itajubá e você em Santa Rita do Sapucaí, por achar que o curso era mais rápido. Sofremos juntos um doloroso acidente de motoneta, por culpa minha. Machuquei muito, mas você muito mais. Nada disso abalou a nosso amizade. Pelo contrário, a fortaleceu.
Nos formamos, você casou teve lindas filhas, eu me formei, me casei e nossos filhos, se conheceram e conviveram, sabendo de nossa amizade fraterna. Você sempre se preocupou muito mais comigo do que eu com você.
Tivemos a nossa última conversa nas proximidades do Banco do Brasil, quando lhe convidei para programarmos uma viagem juntos até a China, como a última grande aventura.
Em principio você descartou, dizendo ser loucura, mas após eu prometer que em seguida sossegaria e passaria o tempo sem pensar em viagens, você disse que ia estudar o assunto.
Uma semana após aconteceu o trágico acidente que o aprisionou na cama. Nunca mais o vi. Tenho vontade de visitá-lo, mas me falta coragem. Coragem de ver um dos maiores "criadores de caso" que conheci, imóvel e inconsciente.
Nesse período sua esposa se foi definitivamente, ficando o carinho e o amor de suas filhas e de sua família.
Nós os amigos, mesmo de longe, oramos acreditando que um dia, como num estalo, você acordará brigando com todo o mundo.
Caro amigo Sócrates, num dos comícios finais da minha campanha para Prefeito, ao lado da Igreja de São Benedito, com as pesquisas desfavoráveis, você me esperou no escuro da avenida, bem em frente ao "Objetivo", me deu um forte abraço afirmando: Zé, vou com você até o fim. Choramos juntos. Fiquei lhe devendo mais essa.
Grego gosto de você prá caramba. Grave isso onde o seu pensamento estiver.
ER
