Paris, 2023
Caro Zé,
Ás vésperas de inteirar (como diziam na Boa Vista) 80 anos, seguimos registrando lembranças para o grande amigo.
Como você sabe, cheguei em São Paulo em 1959, com toda a experiência adquirida na Boa Vista, é claro.
Cheguei de Pássaro Marron e com a cara e coragem. Não desci na Rodoviária pois não tinha. O ônibus tinha o ponto final na Av. Rio Branco. Também não desci no ponto final. Com permissão do motorista, Senhor Moacir, segui até a garagem do Marron, que ficava no Canindé.
Dormi dentro do ônibus e no dia seguinte, levado pelo Alfredão Careca, que trabalhava na garagem, consegui um trabalho no Posto Esso da Av, Celso Garcia. Horário maneiro: das 18 às 6 horas da manhã. E o bom: quartinho para dormir e chuveiro em cima do lavador de carros. Melhor ainda: lava-pratos na churrascaria "Costela de Ouro " que funcionava anexo ao posto de gasolina. Claro, com direito a dois PF´s por dia.
Mais o quê ? Serviço , casa e comida. Ah! com três meses promovido a garçon (das 11 às 14 horas). O ruim era que não tinha carteira assinada. Em três tempos já deu para comprar um radinho portátil Mitsubishi, uma calça Lee, um terno de nycron na Ducal e duas camisas Volta ao Mundo.
Posto de gasolina é um bom lugar para se fazer amigos. Em 61, um freguês e amigo deu a oportunidade que me ajudou deslanchar. O Dr. Otacílio Vilela me levou para trabalhar na XV de Novembro, como serviços gerais na Bovespa.
Acredite, com 20 anos de idade eu já trabalhava na operação, graças também ao meu curso noturno de contabilidade, que conclui em 1964. Morei três anos dividindo uma quitinete com o Mitsui, japonesinho porreta vindo de Araras.
Nem tudo era trabalho. Inesquecível noite do dia 19 de abril de 1961. Assisti ao vivo o nosso Mengão dar de 5x1 no famoso Santos no Pacaembu. O Mengão com Gerson, Dida, Henrique, Joel e o Santos, com Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pepe. Tudo bem que o Pelé não jogou.
José Tipika
Viver é Perigoso
Nenhum comentário:
Postar um comentário