Quem viverá dentro dos livros?
Está chegando o momento em que, em vez de pessoas, algoritmos gerenciados e ordenados por máquinas caminharão pelas páginas virtuais da literatura.
José Saramago creditou que os escritores viviam dentro dos livros. O português vencedor do Prémio Nobel imaginava que entre as páginas impressas vivia um criador, com toda a sua sensibilidade, à sua inteligência. Saramago afirmava que as pessoas viviam nas estantes da sua biblioteca.
Outra a realidade em que vivemos ameaça transformar a imagem poética dos livros de José Saramago. Está chegando o momento em que, em vez de pessoas, algoritmos gerenciados e ordenados por máquinas vagarão pelas páginas virtuais dos livros, num momento em que escrever é muito fácil.
Há algumas semanas vários sites publicaram que a Amazon, dona até do mais poderoso espaço comercial de venda de livros, anunciou que, de textos eletrônicos autopublicados escritos com ferramentas de inteligência artificial, permitiria apenas colocar em suas estantes no máximo três obras do mesmo autor.
Este panorama complexo onde se misturam os avanços artísticos, comerciais e tecnológicos, revela uma realidade em que a literatura artificial pode causar um verdadeiro cataclismo cultural.
E o pior é que tudo parece indicar que não temos escudos para nos defender desse ataque e salvar a existência daquelas pessoas, com paixões e caprichos humanos, que até agora vimos viver nos livros.
(comentado em El País)
Viver é Perigoso
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