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sábado, 8 de abril de 2023

OPERAÇÃO CAMANDUCAIA



Em dezembro de 2020, foi lançado o filme/documentário "Operação Camanducaia" produzido pelo Itajubense Tiago Rezende de Toledo.

O filme “Operação Camanducaia” conta sobre uma operação clandestina em 1974. Na ocasião, policiais de São Paulo prenderam 93 crianças e adolescentes acusados de pequenos delitos. Eles foram despidos, espancados e jogados em um barranco perto da cidade de Camanducaia.

Apenas 41 deles apareceram na cidade na manhã seguinte, machucados, nus e esfomeados, invadindo bares e restaurantes à procura de roupas e comida. Os outros 52 jovens continuam até hoje com o paradeiro desconhecido.

Tiago Rezende de Toledo, teve a motivação, após a leitura do livro “Infância dos Mortos”, de José Louzeiro.

O Senhor Elizeu Messias, hoje com 66 anos, foi um dos rapazes. Foi preso, torturado e jogado fora, sem ter cometido nenhum crime.

Messias nasceu em Jundiaí do Sul (PR) e veio para São Paulo após ficar órfão, ainda na adolescência, para morar com uma tia, mas saiu de casa por desentendimentos com o marido dela. Foi abrigado no Instituto Modelo, na zona leste de São Paulo, instituição do Estado destinada ao acolhimento de crianças e adolescentes sem vínculos familiares. Havia começado um curso de torneiro mecânico dias antes de ser levado pela polícia sem qualquer explicação.

Messias não tem certeza de quantos dias ficou detido no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) dividindo cela com outras dezenas de meninos.

Na noite de 18 de outubro de 1974, Messias e outros 92 meninos recolhidos de várias delegacias foram colocados num ônibus. Em um barranco na beira da rodovia Fernão Dias, próximo da cidade de Camanducaia (MG), foram obrigados a desembarcar, sem roupas e sob tapas. Ao descer do coletivo, ele tomou uma paulada na cabeça e desmaiou.

Foi ajudado pelo gerente de um posto de gasolina e levado para a delegacia de Camanducaia, Messias retornou a São Paulo poucos dias após a ação, junto dos outros meninos.

Trabalhou como operador de máquinas, ascensorista e na construção civil, mas sempre sem lugar certo para morar, dependendo da disponibilidade de vagas em albergues temporários. O idoso recebe um benefício no valor de um salário mínimo por mês

Em agosto de 1975, ele tentou, por meio de uma queixa-crime, denunciar os responsáveis pela operação, mas não teve sucesso.

No mês passado, quase quatro anos após ele ter entrado com um processo contra o Estado de São Paulo, a Justiça condenou o governo paulista a indenizá-lo em R$ 65 mil.

A Procuradoria-Geral do Estado recorreu alegando que a operação não teve motivação política e, por isso, o caso já prescreveu.

Comentou o Sr. Messias:

"O que importa é eles reconhecerem o que fizeram, para mim, dinheiro não importa. Entrei com o processo porque tenho raiva disso até hoje, cada vez que lembro me dá raiva."

Viver é Perigoso

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