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quinta-feira, 17 de março de 2022

O INFILTRADO

Soledad

José Anselmo dos Santos, simplesmente Cabo Anselmo, tomou o barco na terça-feira (15), em Jundiaí, aos 80 anos.

Ficou famoso em 1964 com líder da revolta dos marinheiros, episódio que contribuiu para a derrubada do Governo Jango e a implantação do governo militar no País.

Foi preso, cassado e exilado no México.

Voltou, foi preso e aceitou a trabalhar para a ditadura infiltrando-se em grupos de esquerda e movimentos sindicalistas. Sua função era fornecer informações para os órgãos de repressão do governo.

Num dos casos, suas informações resultou na prisão de sua noiva, Soledad Barrett Viedma, grávida de 4 meses, entregue ao Delegado Sérgio Paranhos Fleury. Soledade não resistiu as torturas e faleceu.

Anselmo sumiu do mapa entre 1972 e 1973, sendo dado, pelas forças de segurança, como morto.

Ressurgiu em 1984 em entrevista concedida ao jornalista Octavio Ribeiro, da Isto É. Em 1999 participou do programa Canal Livre da Rede Bandeirantes e 2011, do Programa Roda Viva da Tv Cultura.

Anselmo morreu aos 80 anos de idade, num hospital de Jundiaí, devido a uma infecção renal.

Em tempo, Soledad era paraguaia residente no Brasil. Também era poeta.

Em janeiro de 1973 a direção nacional da VPR comunica ao núcleo de Pernambuco que estes haviam sido descobertos pelos militares e precisava ser desmanchado. Anselmo e Soledad iriam para o Chile. A principal liderança local, Anselmo, ficou responsável por organizar o desmanche, mas não sem antes preparar a captura dos companheiros. Em 8 janeiro de 1973, dois dias após completar 28 anos e com 4 meses de gravidez, Soledad e outros camaradas da VPR são vítimas da traição do Cabo Anselmo.

Soledad escreveu para a sua mãe.

"Mãe, me entristece te ver assim
o olhar quebrado dos teus olhos azul céu
em silêncio implorando que eu não parta.
Mãe, não sofras se não volto
me encontrarás em cada moça do povo
deste povo, daquele, daquele outro
do mais próximo, do mais longínquo
talvez cruze os mares, as montanhas
os cárceres, os céus
mas, Mãe, eu te asseguro,
que, sim, me encontrarás!
no olhar de uma criança feliz
de um jovem que estuda
de um camponês em sua terra
de um operário em sua fábrica
do traidor na forca
do guerrilheiro em seu posto
sempre, sempre me encontrarás!
Mãe, não fiques triste,
tua filha te quer."

Viver é Perigoso

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