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quinta-feira, 23 de maio de 2024

FACULDADES TABAJARA

 


Abrir faculdades de medicina como temos feito é um absurdo que vai nos custar caro. Os dados da Demografia Médica 2024, recém-publicados pelo Conselho Federal de Medicina, revelam que nos últimos dez anos autorizamos o funcionamento de 190 faculdades, mais do que em toda a história da medicina brasileira.

Por que tanto interesse em abrir escolas médicas? Com mensalidades que podem passar de R$ 10 mil, não vamos perder tempo com explicações.

Temos 389 faculdades - por enquanto - , número que nos confere o título de vice-campeões mundiais. Ganhamos dos Estados Unidos, que têm 131, e da China, com 150 para 1,4 bilhão de habitantes. Só perdemos para a Índia, o país mais populoso do mundo, mesmo assim por pouco tempo, mantida a irresponsabilidade atual.

Há 576 mil médicos no Brasil, quatro vezes mais do que aqueles em atividade nos anos 1990, quando éramos 144 milhões, 70% da população atual.

Você, prezado leitor, pode pensar que num país com tantas deficiências no acesso à saúde, quanto mais médicos tivermos, melhor o atendimento. Está enganado.

Primeiro:
Essas faculdades são criadas em instalações inadequadas para os laboratórios do curso básico e sem dispor de hospitais-escola dignos desse nome.

Segundo:
Não existem no país professores com formação acadêmica em número suficiente para oferecer cursos com um mínimo de qualidade para tantos alunos.

Terceiro:
Não temos vagas para residentes nem para a metade dos formandos. Como os concursos para residência aprovam os mais preparados, caímos numa situação paradoxal: os mais preparados passam mais cinco anos em treinamento nos melhores hospitais, enquanto os demais são jogados no mercado de trabalho sem avaliação técnica.

Quarto:
Faculdades de má qualidade continuam abertas pelo país afora, jogando centenas, senão milhares, de jovens mal treinados para atender em ambulatórios e nos pronto-socorros. Os Estados Unidos, a certa altura, fecharam dezenas delas. Um exame de suficiência a cada dois anos teria a vantagem de avaliar a qualidade do ensino, dar oportunidade para aprimorá-lo e proibir novos vestibulares nas escolas com os piores resultados.

Quinto:
Os custos da assistência médica aumentam muito quando o médico não sabe como resolver os casos dos pacientes que atende. Na indecisão, a oportunidade do diagnóstico precoce é perdida, a doença progride, o tratamento fica mais difícil, os exames mais frequentes e os procedimentos técnicos mais complexos e dispendiosos.

Sexto:
Deixo para o fim o mais importante. Maus médicos são um perigo para seus pacientes. Não seria este o argumento definitivo para submetermos à seleção essa enxurrada de profissionais mal formados e de faculdades de medicina precárias que os interesses financeiros insistem em multiplicar?

Drauzio Varella

Viver é Perigoso

Um comentário:

Anônimo disse...

Reserva de mercado?

Deixa abrir, quanto mais melhor.