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terça-feira, 9 de maio de 2023

MOÇA BONITA


Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. 
Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. 
Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão "Ovelha Negra", as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário de algumas revistas há de sair. 
Nas redes virtuais, alguns dirão: Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, kkk. 
Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. 
Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus:
  - "Thank you Lord, finally sedatet ".

Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa.

"Enquanto isso, sigo sendo uma septuagenária bem-vivida, bem experimentada, bem amada, careta, feliz e...bonitinha. 
Tempo para curtir minha casa no mato, para pintar, cuidar da horta, paparicar meus filhos, acompanhar minha neta crescer, lamber meus bichinhos, brincar de dona de casa, escrever historinhas, deixar os cabelos brancos, assistir novela, reler livros de crimes que já esqueci quem eram os culpados, ler biografias de celebridades com mais de setenta anos, descolar adoção para bichos abandonados, acompanhar política planetária, faxinar gavetas, aprender a cozinhar, namorar Roberto e, se ainda sobrar um tempinho, compor uma musiquinhas."

Rita Lee

Viver é Perigoso

Um comentário:

Anônimo disse...

Vida q segue....ou morte q vai..e vem.