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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

FORA DE TEMPO



O Sr. Vittório Medioli, como quase todos sabem, é um empresário e político italiano, naturalizado brasileiro em 1981, sendo o atual prefeito da cidade de Betim. Vive no Brasil desde 1976. É o dono do jornal de Belo Horizonte, "O Tempo".

Jairzista declarado, deu essa tremenda "pisada de bola" ao publicar ontem (6) no seu jornal. Convém ler para sentir o drama vivido pelo País.

O resultado das eleições presidenciais voltou a lançar sementes poderosas de distanciamento entre várias regiões e setores econômicos, ampliando o inconformismo dos que produzem muito e se consideram submissos à decisão de Estados mais distantes do centro da produção industrial. Há nítidas divergências de pensamentos, costumes e opiniões, agravadas pelas maciças transferências de renda entre Unidades da Federação. Separar, portanto, é avaliado por um ângulo como alternativa para se desfrutar de rendas regionais próprias que, no formato de hoje, dividem-se em nome da “equidade” nacional.

Bolsonaro ganhou as eleições em quatro das regiões geográficas do “continente Brasil”, e Lula, em apenas uma. Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte, representando 86% do PIB e 74% da população nacional, escolheram majoritariamente Bolsonaro. O Nordeste escolheu Lula, com uma avalanche de votos que, no cômputo nacional, deu ao petista o título de vencedor. Fossem dois países diferentes, haveria dois presidentes, e cada um com as suas respectivas características. Agora, quatro regiões estão mais contrariadas do que felizes, e uma, apenas, em festa.

Se analisarmos somente a Bahia, com uma diferença a favor de Lula de 3,7 milhões de votos, essa distância fica bem mais clara. Apenas esse Estado conseguiu inverter o resultado das eleições em todo o país. Bolsonaro vencia o pleito com 1,6 milhão de votos de vantagem, mas, quando entraram os votos baianos, Lula passou à frente e terminou a disputa com 2,1 milhões de votos a mais. Ressalte-se que apenas 7% dos eleitores brasileiros votam na Bahia e que, sem ela, Bolsonaro continuaria como presidente em 2023.

Estados eminentemente “bolsonaristas” são economicamente mais pujantes, sendo aqueles que transferem para a União um volume de impostos até 15 vezes superior ao que recebem de volta, como é o caso de São Paulo, que recolheu, em 2021, mais de R$ 720 bilhões e recebeu de volta minguados R$ 47 bilhões. Nos Estados “lulistas” a situação se inverte. A Bahia recolheu R$ 23,4 bilhões e recebeu R$ 34,4 bilhões (R$ 11 bilhões de diferença entre o que entrou e o que saiu).


A vitória de Lula se deu em todos os Estados que são altamente subsidiados, não repetindo o resultado em quase todos aqueles que subsidiam. Inapelavelmente, o confronto eleitoral separou essas duas vertentes: quem mais produz em contraposição aos que menos geram resultados para a economia. Situações de distanciamento econômico como essa já ocorreram em outros países continentais, como foi o caso da União Soviética, que acabou se fragmentando e quebrando o “federalismo”.

Quem viveu esse fenômeno de perto assistiu à repetição da bíblica Torre de Babel, uma obra que desafiava as nuvens, mas que, em determinado momento de sua construção, gerou um desentendimento generalizado, que a inviabilizou por completo.

Santa Catarina, bolsonarista ao extremo, é onde o movimento separatista já não é mais tão silencioso. Muitos naquele Estado não querem mais dividir suas rendas nem ser submetidos às decisões de outras regiões, com as quais, a cada dia, a distância socioeconômica e cultural se amplia e endurece. Evidentemente, quando quem paga a conta tem que se submeter às decisões diametralmente contrárias, as coisas começam a travar.


Outro exemplo é o Centro-Oeste. Trata-se da fronteira onde o agronegócio explodiu. Por lá, caminhoneiros, que, mais do que qualquer categoria, transitam nas diversidades do Brasil e têm assim condições de avaliar costumes, modelos e modos de tocar a vida, continuam reagindo contra o PT, o eleito Lula e suas ideias.

Com exceção do Nordeste, milhões de pessoas se aglomeram em frente aos quartéis do Exército procurando alternativas ao que não querem. Não se conformam, pois esperam viver em um Estado mais liberal do ponto de vista econômico e garantidor do que chamam de “ordem e do progresso”. O lulopetismo, no passado, fez a sua parte para que esse pessoal de verde e amarelo o rejeitasse.

Com o fim das eleições, temos, então, dois Brasis. Um que produz mais e arrecada impostos, e outro, paradoxalmente mais carente, que vive das transferências. Dessa forma, a divisão territorial, por meio de um “divórcio consensual”, está com suas sementes se espalhando. É preciso avaliar se isso será “menos pior” do que a possibilidade de uma situação que possa caminhar para uma guerra civil. Dar a Lula o que é de Lula e a Bolsonaro o que é de Bolsonaro seguiria um antigo pensamento. O separatismo, presente em outros momentos da história brasileira, não seria, à primeira vista, a solução mais adequada, mas, nesse caso, a vontade popular, por meio de plebiscitos, seria talvez a única solução para resgatar a legitimidade ameaçada.

Vittório Medioli

Viver é Perigoso

3 comentários:

Anônimo disse...

Mais que ideia e raciocínios mais estapafúrdios.
Tanto que se retrata e pede desculpas hoje no mesmo O Tempo. "Eu me expressei mal e fui infeliz na utilização dos termos."
Mas de qualquer forma lançou a semente.
Essa turma não tem limites, além da bagunça pós eleitoral em tentar parar o país, dos pedidos malucos de intervenção federal, agora vem esse raciocínio torto, mal intencionado de perdedores.
Lembremos que no passado no nordeste sempre tivemos o voto de cabresto ditados pelos coronéis da política locais.
Quem mais se beneficiou disso foram os políticos da então Arena sustentáculo político dos generais presidentes tão amados pelos bolsonaristas tipo o pobre colunista e dono de jornal, diria fora do Tempo.
Quando o nordeste junto com o sudeste começaram a se revoltar contra isso com eleição de oposicionistas do então MDB (1974), o ditador Geisel criou o Senador Biônico que não recebia nem um mísero voto popular obtendo maioria no Senado.
Convém lembrar que Lula cresceu muito em votos no Sudeste no segundo turno em reação ao primeiro, assim como Bolsonaro cresceu no nordeste. Então não foi só o nordeste que elegeu Lula.
Aprendam com os perdedores pelo menos isso, perderam? Vão pra casa e se preparem para a nova eleição.
Organizem-se para ser oposição fiscalizadora.
Chega de divisões.
Este senhor deveria ser grato ao Brasil por acolhe-lo assim como acolheu milhões de imigrantes e descendentes hoje todos brasileiros.
Causídico Jurássico

Anônimo disse...

Poços tb fora do tempo. Nas comemorações dos 150 anos daqui da cidade vários filhos ilustres e outros nem tanto, como no caso, foram convidados a darem depoimentos. Vídeo/filme do jornalista Luiz Nassif foi parcialmente censurado pelo prefeito bolsonarista Sérgio Azevedo.Interessante, o prefeito nem é da cidade. Esse conceito praga do bolsonarismo se espalhou pelo Brasil. Juízo moçada.

Anônimo disse...

Redimindo: como é bom ter um picolé de chuchu. Fala pausada meio caipira de Pinda um oásis nos tempos conturbados, de ameaças e confrontações dos últimos anos. Nesse aspecto da escolha de vices Lula é um mestre.