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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

BIRKENSTOCK



Atentei-me pela primeira para a existência de uma sandália Birkenstock, nos pés do ator Marlon Brando, numa foto p&b, com ele esparramado e bem à vontade no Hawaí. Gostei do calçado.

Em 1994 visitei uma empresa eletrônica no interior da California. Ainda não se falava em Vale do Silício, fomos apresentados. Paguei US$ 80 pelo par e, praticamente, não nos afastamos mais. Fidelidade absoluta. Nunca usei outro modelo ou marca.  

Para os que estão chegando agora, tudo começou em 1774, quando Johann Adam Birkenstock abriu uma loja de calçados na cidade de Langen-Bergheim, no Estado alemão de Hesse. Começou como calçado ortopédico é hoje um símbolo. A Birkenstock, manteve e mantém hoje toda a sua produção em fábricas próprias na Alemanha.

Em 1966, Margot Fraser, uma californiana de origem alemã, Margot Fraser, em viagem para a Alemanha, descobriu o extremo conforto dessas sandálias e influenciou a sua comercialização em algumas lojas de produtos naturais.

Os Birkenstocks logo atraíram a atenção de ambientalistas, jovens da contracultura e hippies. Ainda eram um sapato um tanto residual, mas logo algo mais do que seu conforto palpável foi associado a eles: começaram a ser usados ​​por pessoas que eram contra as armas nucleares, os alimentos processados ​​e a sexualização das mulheres. Associadas aos hippies, as sandálias tiveram um breve momento como uma declaração de moda subversiva nos anos 90 com moda “grunge”.

Como publicou época o The New York Times,a Birkenstock tornou-se uma referência de classificação social e ideológica: como publicou na época o The New York Times, os sapatos podem revelar muito sobre alguém e indicar de onde vem e para onde gostaria de ir, telegrafando até mesmo o seu eleitorado. inclinações. A cultura popular americana atribuiu o uso de sandálias ortopédicas alemãs a um espírito progressista. Também é recorrente no País, o estereótipo de “usar Birkenstocks e dirigir um Volvo”. 

Enfim, as Birkenstocks tornaram-se calçados de oposição. A Lyst (que é uma plataforma global de busca de moda, algo como um Google de moda) apontou a sandália Arizona como o calçado mais popular do mundo

Na Europa a conotação é diferente mas também faz um retrato: as Birkenstocks estão associadas às culturas nórdicas e são a marca e são o calçado por excelência da Alemanha à Dinamarca, passando pela Holanda, Suécia e Noruega, especialmente nos meses de verão. Quem os usa valoriza a durabilidade, está associado ao distanciamento do fast fashion e à preocupação com o meio ambiente.

Mas como é que estas sandálias conseguiram conquistar todo o tipo de públicos em qualquer canto do planeta? 

A pandemia deu à empresa outro impulso com o qual não contavam. O foco na comodidade de trabalhar em casa despertou ainda mais interesse pela marca. Trabalhar em casa libertou das restrições sociais e as Birkenstocks significavam exatamente isso. Assim, da noite para o dia tornou-se o calçado número um e a procura online tornou-se uma loucura.

É inegável que o impulso do filme Barbie de Greta Gerwig foi uma bomba para a marca. As Birkenstocks aparecem no filme em um momento crucial em que Barbie deve tomar uma decisão que mudará sua vida: a personagem de Margot Robbie se depara com uma escolha inspirada em Matrix, a pílula vermelha ou a pílula azul. Os saltos rosa que simbolizam a ignorância da Barbielândia, ou o frio mundo real, materializados em feias Birkenstocks. As sandálias são o emblema de uma auto-realização desagradável, mas necessária. Barbie termina o filme reconciliada com a vida e com sandálias, com um par de Birkenstocks aos pés, especificamente as do Arizona (rosa, é claro).

Depois de quase 250 anos de história, a marca alemã está prestes a dar um passo gigante na sua listagem na Bolsa de Valores de Nova Iorque, segundo documento publicado pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA. Espera-se que a empresa levante até US$ 1,6 bilhão após seu lançamento no mercado de ações de Nova York e que a gama de ações varie de US$ 44 a US$ 49. 

El País

Viver é Perigoso

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