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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

GAROTA DE ITAJUBÁ

Inicio dos anos 70. Todos a conheciam de vista e sabiam que morava com a família na subida do cemitério. Mais ou menos 1,80m de altura, loira, naturalmente bonita, serissima.
Mas o que impressionava era o caminhar.
O caminhar da Gisele hoje nas passarelas (antes da gravidez) não chegava aos seus pés. Era uma mistura de gazela com égua puro sangue lusitano, daquelas que se apresentam nas provas olímpicas de adestramento. Sempre com vestido solto e sapatos com salto altíssimo.
Quando ela entrava na rua nova indo no sentido da rodoviária, parecia que fixava o olhar na logomarca ESSO no posto de gasolina da Associação dos Motoristas no final da Avenida, e desconhecia o que se passava no mundo. Era o fim.
Os lojistas corriam para as portas das lojas, os carros diminuíam a velocidade (naquela época era mão dupla) e os transeuntes lhe davam passagem pelo passeio estreito.
Foi aí que aconteceu a tragédia. Na travessia da Francisco Masseli, entre a Massas Nosso Pão e a antiga cadeia, seu olhar altivo a fez desconhecer o enorme monte feito pelo 2104 (nome do cachorro do João Marrocos) no meio da calçada. Estava naquela situação de casquinha por fora e mole por dentro.
O pezinho direito, como o Titanic no iceberg, entrou em cheio, provocando rebarbas para os dois lados e cobrindo todo o pé.
A sensação de frio com melado provocou uma súbita parada e o olhar aterrorizado para baixo, constatando o desastre. A primeira coisa que ela fez foi olhar para os lados tentando encontrar alguma testemunha. Assistindo a cena estavam desde policias, estudantes e Libaneses, que dominam a região.
O sapato que era preto ficou amarronzado e cheiro que estava dormindo acordou com toda a sua força.
A reação foi inusitada. A linda e empertigada moça descambou de forma acelerada pelos lados do Nova Aurora, entrou pela linha de trem que fica atrás do edifício Issa e sumiu.
Tivemos notícias que ela teria se mudado para a casa de uma tia em Uberaba.
Ninguém mais a viu. Não era o caso.
ER

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