Paraiso, 10 de novembro de 2011
Caro Zezinho,
Antes de mais nada gostaria de registrar que estou apenas ditando esta carta. Minha mistura do italiano com o português é um desastre, prevalecendo sempre o italiano que nunca desgrudou de mim.
Não fiquei chateado quando você relatou o episódio do desaparecimento do meu bigode, naquele fatídico acidente provocado pelo barbeiro "Zé Passarinho". Achei até engraçado.
Recordando: Com muito trabalho, já no inicio do século XX ( mais ou menos 1910), me estabeleci na terrinha, como você diz, vindo a ser um dos maiores fabricantes de carroças e bagageiras do Sul de Minas.
As primeiras charretes de praça (táxis) da cidade foram minhas.
Fui bem sucedido e junto com o Jayme Riera, o seu corretíssimo Avô, ajudamos a construir o bairro da Boa Vista. Era pura várzea. Éramos proprietários de grande parte das terras.
Construí minha casa ao lado da Igrejinha (hoje Igreja São José), às margens do Rio Sapucaí.
O piscoso rio, fazia uma grande curva nos fundos do terreno da minha casa. Ali, você, ainda menino, com seu Avô e seus tios pescaram piabas e lambaris muitas vezes e sempre pagaram o pedágio exigido: Um lambari para o cesto e o seguinte para os meus gatos.
Até o Presidente Wenceslau costumava pescar no que ficou conhecido como o poço do Filipe. Ele e amigos queridos como o Sebastião Valério e o Mané Ricardo.
Fiquei feliz em saber que você mora desde 1987 no mesmo terreno da minha casa.
Toda essa enrolação feita, foi para atingir o absurdo que chegou ao meu conhecimento. O governo está se autoproclamando dono do terreno.
Só eu sei o que passei atravessando o oceano num porão de navio e chegando nesse país maravilhoso, com uma mão na frente e outra atrás, para conseguir vencer na vida e adquirir bens, como esse terreno onde está a sua casa.
Tomei o barco em 1963. Em tempo de não presenciar esse descalabro.
Não arrede o pé.
Abraço,
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