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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

CARTAS QUE NÃO RECEBI

Paraiso, 10 de novembro de 2011

Caro Zezinho,

Antes de mais nada gostaria de registrar que estou apenas ditando esta carta. Minha mistura do italiano com o português é um desastre, prevalecendo sempre o italiano que nunca desgrudou de mim.
Não fiquei chateado quando você relatou o episódio do desaparecimento do meu bigode, naquele fatídico acidente provocado pelo barbeiro "Zé Passarinho". Achei até engraçado.
Recordando: Com muito trabalho, já no inicio do século XX ( mais ou menos 1910), me estabeleci na terrinha, como você diz, vindo a ser um dos maiores fabricantes de carroças e bagageiras do Sul de Minas.
As primeiras charretes de praça (táxis) da cidade foram minhas.
Fui bem sucedido e junto com o Jayme Riera, o seu corretíssimo Avô, ajudamos a construir o bairro da Boa Vista. Era pura várzea. Éramos proprietários de grande parte das terras.
Construí minha casa ao lado da Igrejinha (hoje Igreja São José), às margens do Rio Sapucaí.
O piscoso rio, fazia uma grande curva nos fundos do terreno da minha casa. Ali, você, ainda menino, com seu Avô e seus tios pescaram piabas e lambaris muitas vezes e sempre pagaram o pedágio exigido: Um lambari para o cesto e o seguinte para os meus gatos.
Até o Presidente Wenceslau costumava pescar no que ficou conhecido como o poço do Filipe. Ele e amigos queridos como o Sebastião Valério e o Mané Ricardo.
Fiquei feliz em saber que você mora desde 1987 no mesmo terreno da minha casa.
Toda essa enrolação feita, foi para atingir o absurdo que chegou ao meu conhecimento. O governo está se autoproclamando dono do terreno.
Só eu sei o que passei atravessando o oceano num porão de navio e chegando nesse país maravilhoso, com uma mão na frente e outra atrás, para conseguir vencer na vida e adquirir bens, como esse terreno onde está a sua casa.
Tomei o barco em 1963. Em tempo de não presenciar esse descalabro.
Não arrede o pé.

Abraço,

Filipe Pizzuto    

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