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domingo, 14 de agosto de 2011

MÃE

Aqui na terrinha costumamos dizer : Aquele rapaz é uma moça. E vem a ser um tremendo elogio. Dizemos também que esse pai é uma mãe ou essa mãe é um pai. Todos são elogiosos.
Daniel Piza escreveu na sua coluna no Estadão sobre a sua mãe. Simples, direto e muito bonito. deve ter sido uma pessoa maravilhosa  a Sra. Edith. 

"Durante os mais de três anos desde que descobriu que tinha hepatite C, contraída numa transfusão de sangue em 1964, quando a doença nem sequer tinha sido caracterizada, minha mãe jamais se fez de vítima, jamais disse algo remotamente parecido com “que azar o meu” ou amaldiçoou seu destino. Enfrentou tudo como sempre enfrentou tudo na vida: com fibra, resignação, teimosia, sem sentimentalismo ou escapismo. Foi aos médicos, tomou as injeções, passou por três cirurgias. A doença e o tratamento lhe tiraram a mobilidade e ela ficava sentada vendo House e as novelas na TV, lendo jornal, falando horas ao telefone com as amigas e irmãs; mas sua maior alegria era ver os netos, depois dos quais se tornou mais suave e relaxada, e ao menos eles a puderam visitar no quarto nos últimos dias, apesar de sua consciência – antes sempre tão alerta – começar a faltar, sob efeito da encefalopatia e dos remédios.

Edith (com “th”, como a Piaf) morreu aos 72 anos na última segunda-feira, depois de seis semanas de hospital (Santa Catarina, que a tratou com excelência), e deixou no marido, nos quatro filhos homens e nos dez netos uma sensação de ausência previsível, mas para a qual nunca existe “preparo”. Ninguém está preparado para perder uma parte de si, e Edith estava sempre presente. Não fui criado para pensar na mulher como “sexo frágil” porque ela era o oposto disso. Era das melhores alunas do Pasteur e, depois, da História Natural na USP; foi professora de ciências na rede pública, em escolas como Lasar Segall, e mais tarde foi estudar Pedagogia para se tornar diretora; no começo, pagava a maior parte das contas, enquanto meu pai começava na medicina; aposentada, foi ajudá-lo na administração do hospital (Casa Verde). Nunca tinha preguiça e nunca deixou de dividir tudo com ele, parceira fiel.

Tinha temperamento difícil, como seu pai, Alfio Schievano, de quem pegou o gosto por óperas italianas (Puccini, Donizetti), mas tinha inteligência, responsabilidade e caráter raros, era mais orgulhosa que vaidosa – embora tão bonita – e demonstrava muito carinho com sobrinhos e afilhados. Como sua mãe, Antonieta, e suas irmãs, gostava de juntar a família, de aglutinar todos à mesa nas datas festivas ou, como fizemos tantas vezes entre 1975 e 1985, na chácara lotada também de amigos. Nos últimos anos, gostava muito de nos visitar aos domingos, e só me lembro de se queixar da restrição médica ao sal. Ao contrário do sal, como ela dizia, “personalidade é melhor sobrar do que faltar”. Agora, não mais suas almôndegas, não mais suas opiniões, não mais sua força – apenas as memórias e o exemplo que elas vão sempre evocar. Descanse, mãe. E muito obrigado."

Daniel Piza

Um comentário:

Anônimo disse...

"Essa Mãe é um Pai"...Costuma-se dizer. É verdade. Constatei isso no domingo.

Coração Partido...

Seria uma Missa comum de domingo não fosse uma cena encantadora que presenciei. Na minha frente, sentados estavam mãe e filho. O domingo era festivo, pois se comemorava o dia dos pais. A Igreja do bairro em que moro sempre prepara alguma surpresa para as datas especiais e nesse domingo não foi diferente. Famílias inteiras participavam daquela celebração. A homilia foi digna de orador. Dos melhores. Foi tão tocante que muitos pais já deixavam suas lágrimas rolarem soltas só de ouvirem a bela explanação do celebrante. No ofertório, as crianças todas que estavam na Igreja saíram de seus lugares e se encaminharam para frente do altar levando uma flor ao Padre.
Ao entregarem a flor, recebiam um presente que deveria ser entregue com todo amor e carinho ao seu pai ali presente. No meio daquelas pequeninas crianças estava um jovem alto e forte. Ele, sorridente e com os olhos brilhando também foi até o padre. Entregou a flor, pegou o presente e se virou feliz voltando em direção ao lugar onde estava. Só nesse momento percebi que ele era um garoto especial. Tinha Síndrome de Down. Fiquei observando-o. Ao entregar o presente, o padre falava para as crianças: __Dê os parabéns e um forte abraço ao seu pai, quando entregar o presente.
Aquele jovem veio rapidamente, com os olhos fixos naquela mulher que continuava parada no mesmo lugar e, com o presente aconchegado ao coração, beijou-o e num forte abraço entregou-o à ela cobrindo-a de beijos. Aquela mãe tão especial deveria ser também seu pai..
Não agüentei...Meu coração se partiu. Chorei sem pudor algum ao sentir o amor tão sublime entre aquelas duas criaturas tão especiais! Era muita cumplicidade e emoção e sinceridade no ar. Valeu o meu domingo.
Bah