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domingo, 1 de agosto de 2010

RIFA-SE UM CORAÇÃO


"Rifa-se um coração quase novo, um coração idealista. Um coração como poucos. Um coração à moda antiga, um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade, está um pouco usado, meio calejado, muito machucado. E que teima alimentar sonhos, cultivar ilusões.
Um pouco inconsequente, que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um leviano e precipitado coração, que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu..."não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu quero..."
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende, que não endurece e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional, sendo louco suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê sua posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido, tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que, abre sorrisos tão largos que quase que dá para engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, por quem gosta de emoções fortes.
Um orgão abestado, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente, que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário. Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas:
O Senhor pode conferir, eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagem e me dei mal, quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer.
Rifa-se um coração ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo, um orgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga, um coração que não seja tão inconsequente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais. Por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeito que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de se não modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convenceu o seu usuário a publicar seus segredos e, a ter a petulância
de se aventurar como poeta".
(C. Lispector - juntado por ER)

Um comentário:

Nidia Telles disse...

Oi,Edson. Dê uma olhadinha num texto que escrevi sobre o postado acima.

http://ninitelles.blogspot.com/2010/03/servico-corrigindo-erros.html

Abraços