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terça-feira, 3 de agosto de 2010

CAIO FÁBIO JÚNIOR

Recebi hoje, via email, de uma pessoa especialíssima para mim, esse depoimento do Caio Fábio Júnior.
Explicando: conheci Caio Fábio pessoalmente e, como curiosidade por meio dele, o senador Artur Virgílio (ainda não havia entrado para a política). Ambos amazonenses. Conheci os pais de Caio e estive algumas vezes na casa deles e eles na nossa, quando morávamos em Manaus.
Caio Junior andou com frequência pela "montanha russa da vida".
Numa noite de 1980 eu estava presente num estádio de futebol em Manaus, completamente lotado, com milhares de pessoas. O Caio foi até o centro do gramado, tomou o microfone e fez uma oração. Se tivesse uma mosca voando, todos teriam escutado o barulho de suas asas.
Talvez tenha sido um daqueles momentos mágicos que não acontecem por dez vezes durante toda uma vida.
Perdi o contato e acompanhei pela imprensa as complicações para as quais foi levado no decorrer de sua vida. Deus não abandona ninguém. (ER)

"Hoje é domingo. Estou só. Minha mulher repousa. Meus filhos estão cada um em sua casa ou fazendo seus programas — digo: os solteiros, que agora apenas dois...
Um dia desses [...] eu era um menino, amante de pipas, papagaios, piões, bolinha de goody, briga na grama, caçadas infantis com os tios; amava o sítio, a bicharada, os primos irmãos, os amigos que nunca se foram, os pais com cara de Deus para mim...
Depois... Copacabana! Bola, Maracanã, racha de rua, briga na praia, meninas, cigarro, maconha, confusões, fugas...
De volta á Manaus... Adolescente. Dezesseis anos... Tudo pior. Tudo mais grave que a idade sugeria!... Não mais meninas, mas mulheres. Não mais amigos de infância, porém amigos de banditismo, de cumplicidades. Guerras de rua... Ameaça de morte... Várias! Polícia... Fuga de Manaus!...
Rio de novo... Os Gracie. A alta sociedade carioca. Os viciados em pó e que eram de fina estirpe. Gangues de rua. A Polícia do Exército chamada para separar as arruaças... Amigos presos. Ilha Grande. Sim; no tempo dos presos políticos e do nascimento do Comando Vermelho na Ilha Grande. Fuga para Manaus a fim de não ir parar na Ilha Grande...
Manaus! Papai. Mamãe. Meus manos. Meus primos e tios. Um trabalho para não enlouquecer. Uma namorada para ver se eu conseguia gostar de alguém, e não apenas de mulher bonita. Nada! Frustração. Tinha o emprego. A garota. Outros amigos... Um pouco menos perigosos. Mas nada. O mesmo buraco. A mesma velhice existencial. O Mesmo desejo de morrer...
Julho de 1973!
Jesus. O Evangelho. A Palavra. O peito pra explodir de amor!
Pregação e mais pregação! Imediatamente! Nas ruas e praças. Nas escolas e faculdades. Nas esquinas. Nas casas. Nos hospitais. Nos presídios. Em todo lugar; até nos palácios de governo. E eu era apenas um garoto de 18 anos.
A cidade ouviu. No inicio ninguém cria. Nem os melhores amigos. Nem os primos. Somente meus pais sabiam que eu já era um homem de Deus aos 18 anos. Os demais tiveram que esperar...
Mas não esperam muito... Os frutos caíam das árvores humanas...
Então vieram 25 anos de loucura de entrega à pregação...
Nasceram os filhos e cresceram...
Tudo cresceu...
Onde eu botava a mão o Senhor abençoava e prosperava.
Então os homens me glorificaram; e eu não aceitei a glória, mas não a repudiei como antes meu coração fazia e faria...
Até que chegou ao ponto em que eu olhava e já não via esperança para a "igreja".
Da Igreja, porém, eu jamais desistiria; mas da "igreja" eu já havia desistido.
Hoje, não em 1973, mas em 2010, com a cabeça ficando branca e a barba já toda alva; com a mente mais límpida do que nunca; com os processos de raciocínio mais fáceis do que jamais antes; com um desassombro de vida que jamais provara antes; sem medo de nada e nem de ninguém; tendo por certo que os anos por vir serão ainda os melhores e os mais significativos da minha vida na Terra — entrego-me mais uma vez ao Senhor; e digo:
"Eis aqui o teu servo; filhos de teus servos; dedicado a Ti antes de nascer; e apresento-me diante de Tua face mais uma vez, e apenas rogo: "Toma-me como um Pai toma o filho que não mais nada além de servir na casa do Pai a todos os Seus filhos!"
Só não digo que combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé [...] apenas porque sei que há ainda muita estrada no meu caminho, muito combate em minha jornada e muita fé a ser aprendida e praticada ainda no tempo que o Senhor me der nesta dimensão!
Até aqui a mão de Deus nunca me deixou!
Guiou-me até quando eu pensava que Ele me havia deixado!...
Minha vida prova que o Senhor é fiel, que Ele é bom; e mais: que a Sua misericórdia não tem fim!
Nele, que é meu amigo mais intimo a cada dia."
Caio
25 de julho de 2010
Lago Norte
Brasília
DF

2 comentários:

Aldo Gonçalves disse...

Caio Fábio é aquele que entregou as podridões do "bispo" Macedo, da Renascer e de um monte de pústulas que prosperam tirando o dinheiro do pobre idiota? Gostei dele!

Edson Riera disse...

Aldo,

Uma hora dessas que nos encontrarmos, lhe falarei sobre o Caio Fábio. É de arrepiar tudo o que aconteceu na vida dele.

edson