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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

CARTAS DO EXÍLIO - PARIS

Email recebido hoje de Paris.
Caro Zé,
Hoje me deu coragem. Tempo estou tendo de sobra. Rascunhei informações pessoais, que talvez até você desconheça, mesmo sendo tão próximo.
Meu Pai, que só conheci por fotografia, nasceu na Grécia em 1913, num vilarejo situado aos pés dos Pirineus, um pouco distante de Atenas, chamado Tipika, de onde saiu o seu sobrenome: Eliah Tipika.
Muito novo, foi para Atenas. Segundo a minha mãe, ele trabalhava na marinha mercante com um armador grego, quando em uma viagem (1933), resolveu se fixar em Barcelona, na Espanha, onde conseguiu emprego numa fundição.
Meu pai não falava de sua família grega.
Em Barcelona, conheceu quem viria ser minha mãe, Dolores Rios casaram-se em 1935, estando ambos com 22 anos.
Em 1936, eclodida a guerra civil espanhola, foi perseguido pela polícia do Generalíssimo Franco devido as suas atividades sindicais.
Fugiram para o Brasil, vindos direto de navio para Santos e de lá para São Paulo. Com a cara e coragem.
Foram morar nas proximidades do Braz, onde meu pai arrumou emprego numa fundição.
A minha mãe trabalhava de arrumadeira no hotel Metro, que não existe mais. Ficava próximo ao Mercado Municipal de São Paulo.
Segundo a minha mãe, viviam com relativo conforto, pois ambos ganhavam razoavelmente.
Em 1938 nasceu o meu irmão Ramon Tipika, cujo nome foi colocado em homenagem ao meu Avô materno.
Em 1942, com minha mãe grávida, meu Pai, ao tentar salvar uma criança, acabou sendo atropelado por um bonde na Av. Celso Garcia, vindo a falecer com 29 anos.
No desespero, minha mãe aceitou a sugestão de uma vizinha e mudou-se para Itajubá, com Ramon com 4 anos e eu na sua barriga.
Alugou uma casinha na Boa Vista, do também espanhol, Sr. Jayme Riera, proprietário da Padaria Boa Vista, também originário de Barcelona que a ajudou a se instalar. (seu Avô).
Nasci alguns meses depois, sendo a minha parteira, a Dnª Maria. Fui registrado como José Tipica, com o C no lugar do K, por exigência do cartório.
Com suas parcas economias rareando, ela conseguiu emprego na Fábrica de Tecidos Codorna, instalada no mesmo local onde foi construido o Shopping Vila Nova.
Lá trabalhou por dezesseis anos, quando após insidiosa doença veio a falecer em 1958.
Fiz o curso primário no Grupo Rafael Magalhães, de onde sai com o diploma em 1953, começando logo a trabalhar na Cerealista Itajubá.
Estudando à noite, em 1957, consegui tirar aos trancos e barrancos o diploma de quarta-série ginasial no Colégio Sete de Setembro, que funcionava no Grupo Velho.
No final de 1958 viemos para São Paulo eu e o Ramon, este com a idéia fixa de ir para a Espanha, para onde foi em 1961 e nunca mais deu noticias. Já procurei-o (coloquei até agencias internacionais atrás, e nada).
Assim comecei a minha vida em São Paulo, com 16 anos.
Depois que fizer um resumo do restante, lhe mando.
Posso estar enganado, mas não muito, acerca de datas.
Abraço,
José Tipica
ER



5 comentários:

Saulo Caridade disse...

Enredo de uma tragedia Grega.
Daria um melhor filme que o Cabeza de Vaca.

Aguardo com ansiedade a segunda parte.

Edson Riera disse...

A vida é mais difícil para uns do que para os outros. Importante é o final. O cara está em frente a lareira do seu Apê em Saint Germain, beliscando um queijo, tomando um vinho branco da Alsácia, vendo as ações dispararem...
Tambem quero saber da vida profissional do Tipica. Muitas coisas ele nunca me contou.

Alfredo disse...

Pelo jeito, quando nos encontrarmos vou precisar estar de terno e gravata...

Saulo Caridade disse...

Quem sabe ele pode me ajudar, ser meu guru, tô precisando de umas gotas de sabedoria...

Ele podeira através do bloq, que pude observar tem alguma relação com a sua trajetoria pois "viver e perigoso" parece ser o enredo de sua vida. Poderia ele, nos oferecer alguns ensinamentos e experiencias do tipo:

Dicas de auto ajuda do Tipica!

Bah Gorgulho disse...

Que história de vida linda!
Linda no sentido de vitória pois vencer tendo uma retaguarda como eu tive, é bem mais fácil do que vencer removendo montanhas pelo caminho.
Parabéns!
Você só começou e já despertou curiosidade.

"Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes"
(Goethe)