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terça-feira, 17 de novembro de 2009

GRANDE ÁRBITRO

Ele apitava jogos de futebol, quando lhe dava na cabeça. Era free-lancer da Liga Itajubense de Futebol. Tinha uma característica própria: Só apitava de calça comprida (de uso normal) de linho na cor branca ou quando muito na cor gêlo. A camiseta era preta com o símbolo LIF no peito.
Um dia, na porta do Bar Caçador (eu estava próximo) o grande Athanásio Sarlas perguntou-lhe sobre a maior complicação que vivenciara apitando jogos de futebol.
Ele, com a expressão de tédio que lhe era característica, começou: Até pouco tempo as traves dos gols eram de seção retangular (eu me lembrei perfeitamente disso). Recentemente, a FIFA determinou que fossem substituidas pelas com seção circular, que até hoje estão aí.
Um relatório meu à FIFA acelerou essa mudança.
Uma das razões para essa alteração foi um fato ocorrido ali mesmo em São Lourenço, numa disputa entre Esporte Clube São Lourenço e Fabril de Lavras, mais precisamente aos 42 minutos do segundo tempo, com o placar ainda em branco.
Já escurecia...
Jogo duríssimo... Aconteceu um escanteio contra o São Lourenço, ali no gol dos eucaliptos e na sequência uma confusão na área, com muita poeira sendo levantada.
Naquele bate e rebate, aconteceu o cúmulo do imprevisível. A bola número cinco, oficial, ainda de capotão amarelo avermelhado parou, e até hoje não sei como, em cima do travessão. Eu de imediato apitei, paralizando a partida. E a bola quietinha lá em cima.
Confusão geral. Chamei de lado os capitães das equipes e disse: vou chacoalhar a trave, se cair para trás vou dar tiro de meta. Se cair para dentro, segue o jogo.
Os dois Capitães, ambos estudantes do IEI, questionaram com o argumento: A bola vai cair do lado contrário ao seu primeiro movimento, quer dizer: Se o Sr. empurrar primeiro no sentido da linha de fundo, ela vai cair dentro de campo; Se for ao contrário, ela vai cair fora do campo.
Nessa altura, todos os torcedores já tinham se deslocado para trás do gol com a bola estacionada em cima do travessão.
Pensei, pensei, e numa decisão inspirada concordei dizendo: Eu não irei empurrar nem para frente e nem para trás. Irei balançar de lado. Aplausos gerais para a minha decisão salomônica .
Vamos lá. Me posicionei ao lado da trave esquerda, com os vinte e dois jogadores dentro da pequena área. Contei bem alto, até três.
PQP, a bola balançou, balançou e caiu dentro do campo. Foi aquela avalanche humana. Só que eu contei, a bola entrou e saiu de dentro do gol umas cinco vezes.
Arrebentaram as redes eu apitei o gol, o bandeirinha correu para o centro de campo e eu para onde estavam parados quatro meganhas (sem desrespeito). Com essa proteção, eu mais o bandeirinha do lado das arquibancadas saimos e dentro do camburão fomos parar só em Pedralva, onde ficamos até os ânimos serenarem.
O outro bandeirinha ( que estava do lado da geral) pulou o alambrado e o muro do Estádio indo esconder no Parque das Águas, que ficava próximo.
São Lourenço 0 x 1 Fabril. Foi o último jogo que apitei.
Quem contou foi o Filazinho, grande e respeitado árbitro.
ER

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