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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

AS COISAS MUDARAM MUITO


Afirmam que o caso é verídico e aconteceu no Amazonas, no Alto Rio Negro, numa cidadezinha chamada, Butiarucú da Cachoeira.

Lugar longe, com uns 12 dias de barco, isso é na cheia, pois na vazante não dá calado para o barco. Só dá para ir de vuadeira (barco pequeno com motor de pôpa).

A reportagem sobre esse caso acabou sendo publicada tempos depois num dos Jornais de Manaus.
O fato ocorreu em 1958, e a cidade não tinha praticamente comunicação com o mundo. Só em ondas curtas.
Em 1954, um rapaz nascido lá desceu o Rio Negro, sem destino definido e acabou parando em Manaus, onde arrumou emprego de estivador no Porto Flutuante.
O destino fez com ele ganhasse em uma rifa um bilhete inteiro da Loteria Federal. Tentou vender o bilhete (era o chamado gordão de natal) e não conseguiu.
Não deu outra. Acertou na testa, levando uma bolada em cruzeiros. A primeira coisa que fez foi comprar um fusca alemão ano 1957, (semi-novo) de um político Manaura, que se dispôs a vender o carro por não ter rua para rodar.
O cara alugou uma pequena barcaça de carregar madeira, colocou o carro em cima e mandou tocar para Butiarucú da Cachoeira.

Subindo o rio negro na cheia e viajando dia e noite em duas semanas estava chegando lá.

Uma pausa para esclarecimento: Segundo o pessoal da época, o povo da Vila jamais tinha visto um automóvel. O que é perfeitamente explicável.

A barcaça encostou na prainha em frente a Igreja matriz, pouco depois da meia noite e em plena tempestade amazônica.
Baixaram o pranchão; o nosso herói ligou o carro; acendeu os faróis e preparou para descer na praia.

Um velho morador acordado até àquelas horas da noite, escutando aquele barulho inusitado, olhou pela janela e imaginou estar vendo um bicho saindo de dentro do rio. (O folclore naquelas bandas é muito rico em estórias de bichos, monstros, etc)

Gritou pedindo ajuda e o povaréu correu para a praia na escuridão, armado até os dentes, com porretes,lanças e pedras. O milionário piscava os faróis do carro e buzinava demonstrando toda a sua alegria em estar de volta.
(É típico de brasileiro. Ganha dinheiro, quer comprar carro. Compra carro, quer mostrar para os outros)
O Senhor mais velho, que parecia ser o lider do povoado gritou:
Acertem primeiro os olhos do monstro. Bastaram algumas lanças para que quebrassem os faróis.

O rapaz assustado dentro do carro disparou a buzinar, no que o velho bradava: Ele está ferido, está gemendo. Acertem as pernas. Mais lanças nos pneus.

É nós ou ele gritava o velho. A turma caiu de pau em cima , afundando a lataria.

O motorista vendo que poderia morrer, deslizou para o banco de passageiros e deixou-se cair no escuro do rio, nadando escondido para bem longe.

No outro dia pela manhã o fusca parecia um pastel. Os mais necessitados rodeavam querendo parte da carne (carcaça) para comer.
De longe o rapaz assistia tudo. Dizem que voltou praticamente a nado para Manaus.

Ficaram nos seus ouvidos os últimos gritos do velho líder para o fusca, digo monstro morto: Aqui não violão ! Aqui tem homem !

O rapaz desiludido, perdeu tudo no jogo e terminou como faxineiro do Teatro Amazonas.


ER

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