Talvez não acreditem mas tenho dois CD´s do John Philip Souza, grande compositor Português - Americano, criador dos mais populares e heróicos dobrados dos Estados Unidos, por exemplo; Washington Post March, Stars And Stripes Forever, American Patrol,El Capitan, Hands Across The Sea, e outros.
Ainda fico arrepiado quando os ouço. Uma vez a Banda da ESA (Escola de Sargentos das Armas de Tres Corações), executando, mesmo meio matado, o Star And Stripes Forever, em Itajubá, contribuiu para que eu desse uma tremenda bobeira, fato esse que guardei comigo por muito tempo (quem não tem uma escondido?).
Há milhares de anos, prefiro pensar assim, a Rede Globo da época, chamada TV Tupi, junto com outros órgãos dos Diários Associados detonou uma campanha nacional denominada "Ouro para o Bem do Brasil" .
Essa campanha emocionou o País. O povo entregava aliança, caneta parker 51, etc. Era para salvar o Brasil. Eu que nunca acreditei muito nessas campanhas, tinha na ocasião uns doze ou treze anos.
Atraído pelo dobrado cheguei até em frente ao Forum, hoje Câmara Municipal, e fulminantemente fui atingido pelo discurso emocionado do Sr. Sebastião Inocêncio, jornalista famoso pela força de sua oratória e que sempre era impedido de proferir discursos em enterros sob o risco do defunto levantar. (principalmente pelos herdeiros)
O homem emocionava as multidões Itajubenses com palavras escolhidas. Foi covardia. Com a Furiosa em pleno dobrado, ele apontou o dedo para mim e bradou: Jovem, o Brasil precisa de você ! A Nação espera que você cumpra com o seu dever ! Olhei de lado, olhei para trás e não vi nenhum jovem, só tinha velhinhos.
Era comigo mesmo. Eu não podia falhar naquele momento. Arranquei do pescoço a correntinha 18 quilates , presente de natal da namorada, com certeza comprada em parcelas na relojoaria número 2 e avancei destemido por entre a multidão de uns 10, me sentindo em Leningrado encarando os alemães.
Depositei o precisoso bem na urna e me retirei, ferido mas vitorioso.
PQP, nem bem cheguei a Praça principal, a Banda parou juntamente com o final do inflamado discurso do Sr. Sebastião Inocêncio. O silêncio provocou em mim enorme sensação de perda e de ridículo. Voltei correndo e implorei aos responsáveis pela devolução da minha correntinha.
Negativo. Ainda me ameaçaram. Com um certo alívio fiquei sabendo depois, que o próprio Presidente Wenceslau (nosso conterrâneo), teria se arrependido ao doar àquela Campanha, a caneta de ouro com a qual assinou a Declaração de Guerra a Alemanha em 1914.
Durante muito tempo o meu lema foi esse: Quero que o Brasil se dane ! Já fiz a minha parte.
ER
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