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terça-feira, 25 de outubro de 2011

TRAINDO OS SEUS MORTOS

Enviado pelo Walter Bianchi

Do Eugênio Bucci - Época
Em 2009, o cineasta Steven Soderbergh lançou Che, um épico dividido em duas partes: no primeiro, Che Guevara vira guerrilheiro em Cuba; no segundo, ele vai para a Bolívia instalar um foco revolucionário. No primeiro, Che sai consagrado. Do segundo, saiu morto, carregado por um helicóptero. A cena final do primeiro filme pode ser vista como um trailer do pesadelo ético que a esquerda viveria na América Latina a partir de então. O protagonista Che Guevara (Benicio del Toro) vai pela estrada, dentro de um jipe sem capota, na direção de Havana. era jan/59. O ditador Fulgencio Batista fugiu. Fidel Castro venceu. De repente, passa pelo jipe um vistoso conversível, dirigido por um dos comandados de Che. Che ordena que parem. “Que carro é este?”, pergunta. “Era de um francoatirador”. Manda que seu subordinado volte, devolva o carro e só depois vá para Havana, a pé, se for preciso. A mensagem do líder era simples e direta: a revolução não era um movimento de ladrões. Na biografia que John Anderson escreveu sobre Guevara, há uma passagem parecida. De novo, estamos às voltas com automóveis. Agora, Che é ministro das Indústrias, no regime comunista de Havana. Certo dia, seu vice-ministro, Orlando Borrego, aparece na repartição com um Jaguar esporte, novinho, que encontrara numa fábrica. O chefe o interpela aos palavrões e o obriga a devolver o carro. Outra vez, a mesma mensagem: a revolução não admite ladrões. Acontece que a História não é heroica. Ela é uma piadista. Quando morreu pelas armas dos militares bolivianos, Che estava magro e doente. E os ladrões proliferaram nas fileiras de esquerda. Não roubaram apenas automóveis, mas utopias. Transformaram sonhos dos camaradas em butim. Estão por aí, de terno, gravata e dinheiro vivo dentro de casa. Nisso se resume o grande dilema existencial e político das organizações de esquerda. Comunistas, quando corruptos, roubam a razão pela qual morreram todos os guerrilheiros.Ao se acovardar diante da corrupção, ao julgar que podem se extrair vantagens táticas da corrupção, um partido de esquerda abdica de acreditar na igualdade de oportunidades. Logo, abdica de sua herança simbólica e de nomes como Che Guevara. É bem verdade que Che se tornou um homem embrutecido, violento, comandando execuções às centenas, sem processo justo. O lendário guerrilheiro foi, a seu modo, um misto de verdade e de loucura. Fez sua guerra, sujou as mãos de sangue e topou pagar o preço de sua escolha. O que importa, agora, é que ladrão ele não foi. E isso importa porque não foi a selvageria da batalha que corrompeu a esquerda: foi o roubo. Passemos ao Brasil de 2011. Passemos para hoje. Estamos aí atordoados com mais um escândalo, outra vez embaralhando ONGs, mas agora com militantes e ex-militantes do PCdoB e autoridades do Ministério dos Esportes. Passarão meses, talvez anos, até que saibamos quem de fato tem culpa no cartório. Desde já, porém, sabemos que há milhões e milhões de reais em irregularidades, tudo em nome de dar assistência a crianças carentes que não recebiam assistência nenhuma. A corrupção virou a pior forma de barbárie de nossa democracia não apenas porque mercadeja com o destino de crianças ou porque sacrifica vidas em hospitais imundos e estradas abandonadas, mas principalmente por ter transformado a política numa indústria complexa, cuja finalidade é a apropriação da riqueza de todos para fins privados (e fins partidários são fins privados). Na esquerda, a corrupção se qualifica: emprega métodos bolcheviques e se justifica sob licenças ideológicas que enaltecem o crime comum como se ele fosse a própria trilha de libertação dos oprimidos. É uma corrupção delirante, que se julga uma nova modalidade de guerrilha contra o capital, mas que, no fundo, presta serviços ao que há de pior no capital. Comunistas e socialistas, quando corruptos, roubam enfim a razão pela qual morreram todos os guerrilheiros. Traindo seus mortos, traindo os desaparecidos, o corrupto de esquerda se sente vitorioso. Acha que pode passear de conversível sem ser incomodado.

Eugênio Bucci - Revista Época

Enviado pelo Walter Bianchi 

8 comentários:

Anônimo disse...

Wartão

Estou com uma dúvida tremenda .
Me ajude a elucidar :
Qual a razão que leva a Veja , Globo , e demais midias e aqui no nosso espaço , você e o Zézinho a não dizerem nada sobre a venda de emendas na Assembléia de São Paulo ?
Abraços

Alaor

Anônimo disse...

Alaor,

A maioria dos meios de comunicação de Itajubá adoram falar de outros assuntos menos os da terrinha, cada um no seu quadrado, que nos interessa assembleia de São paulo? Fala serio, vamos falar de Itajuba, sul de minas, BH e punto!
Mineiro

Edson Riera disse...

Alaor,

Não estamos querendo falae das coisas de SP. Teriamos que falar de Campinas, onde o Dr. Hélio (amigo do Lula e do Dirceu) e o seu Vice do PT foram pegos com as bocas nas botija.

zelador

Anônimo disse...

Zézinho

Continuo sem entender .
Em 29/05/2001 não foi falado sobre o Dr. Hélio ?
Em 10/05/2011 não foi comentado sobre Campinas - Toninho do PT ?
O Wartão não mora mais na Grande Mogi no estado de São Paulo ?
Realmente é estranho ...

Alaor

Anônimo disse...

Vc que lê esse blog conhece algum PT que gera emprego, ou renda?
Vale na sua cidade, seu estado , ou no nosso Brasil.

Observação: quem nunca produziu nada e rouba, o faz em dobro.

Caçador do Impossível .

Wartão disse...

Caro amigo Alaor, a venda de emendas na AL de S. Paulo, é tão perniciosa e vergonhosa (eu diria, até mais) que as outras falcatruas que temos citado aqui no espaço do blog.
Eu só não entendo porque V. também só manifesta a sua indignação quando falamos de partidos com tendencias da famosa "esquerda brasileira" que se diz tão preocupada com a divisão de riqueza no nosso país.
A pergunta que fica é: porque as pessoas quando atingem o poder, independentemente de ser facções de esquerda, centro ou direita, mudam as prerrogativas que sempre nortearam as suas vidas de uma maneira tão inescrupulosa.
O artigo da revista Época ilustra bem esse tema e deveria ser lido interpretado e analisado, inclusive por V. que é uma pessoa culta e tem essa capacidade de analisar, como um assunto bastante comum na conjuntura brasileira.
Apesar de não estar presente em Itajubá constantemente, pelo que eu leio no blog, isso acontece com frequência aí na terrinha também.
Basta estar no poder e ter altos cargos(sic), para que as convicções mudem, seja na política, nos sindicatos ou até mesmo no mundo dos negócios.
Analise isso meu amigo e creia-me, não tenho nada contra partidos de facções esquerdistas, ou de centro ou de direita, apenas sou contra as falcatruas que ora estão acontecendo.

Aldo disse...

Che Guevara? Para mim um zero à esquerda. Como disse alguém, um cara que só ficou famoso por causa de uma fotografia...

Anônimo disse...

Wartão

Eu só me manifesto porque , quando dos malfeitos da esquerda ( inúmeros e ponha inúmeros nisto ) existem no blog , além do zelador , trocentos para exporem sua indignação , mas quando se trata , vamos dizer assim , da centro-direita não aparece uma linha siquer a respeito .
Quando a sua indagação , já disseram que o poder corrompe , só que nada é feito em termos de legislação que evite ou dificulte esta pratica , pois , lobo não come lobo .
Abraços e até o dia 12 .

Alaor