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sexta-feira, 6 de maio de 2011

O DRAMA DE ANGÉLICA


Dica do Mestre Joca do Pará

"O Drama de Angélica", composição de Alvarenga e M.G. Barreto, gravado em 1943 no selo Odeon, sob o curioso epíteto de "canto tétrico" pela dupla caipira Alvarenga e Ranchinho.

Ato 1

Ouve meu cântico/Quase sem ritmo/Que a voz de um tísico/Magro esquelético/Poesia ética/Em forma esdrúxula/Feita sem métrica/Com rima rápida/Amei Angélica/Mulher anêmica/De cores pálidas/E gestos tímidos/Era maligna/E tinha ímpetos/De fazer cócegasNo meu esôfago/Em noite frígida/Fomos ao Lírico/
Ouvir o músico/Pianista célebre/Soprava o zéfiro/Ventinho úmido/Então Angélica/Ficou asmática

Ato 2

Fomos ao médico/De muita clínica/Com muita prática/E preço módico/Depois do inquérito/Descobre o clínco/Um mal atávico/Mal sifilítico/Mandou-me célere/Comprar noz vômica/E ácido cítrico/Para o seu fígado/O farmacêutico/Mocinho estúpido/Errou na fórmula/Fez despropósito/Não tendo escrúpulo/Deu-me sem rótulo/Acido fênico/ ácido prússico/Corri mui lépido/Mais de um quilômetro/Num bonde elétrico/De força múltipla

Ato 3

O dia cálido/Deixou-me tépido/Achei Angélica/Já toda trêmula/A terapêutica/Dose alopática/Lhe dei em xícara/De ferro ágate/Tomou num folêgo/Triste e bucólica/Esta estrambólica/Droga fatídica/Caiu no esôfago/Deixou-a lívida/Dando-lhe cólica/E morte trágica/O pai de Angélica/Chefe do tráfego/Homem carnívoro/Ficou perplexo/Por ser estrábico/Usava óculos:/Um vidro côncavo/Outro convexo

Ato 4

Morreu Angélica/De um modo lúgubre/Moléstia crônica/Levou-a ao túmulo/Foi feita a autópsia/Todos os médicos/Foram unânimes/no diagnóstico/Fiz-lhe um sarcófago/Assaz artístico/Todo de mármore/Da cor do ébano/E sobre o túmulo/Uma estatística/Coisa metódica/Como Os Lusíadas/E numa lápide/Paralepípedo/Pus este dístico/Terno e simbólico:/"Cá jaz Angélica/Moça hiperbólica/Beleza helênica/Morreu de cólica!"

Blog: Obra rara e de uma inteligência impressionante.

ER

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