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sábado, 1 de janeiro de 2011

TENTATIVA DE POSSE

Chegou ao Palácio e disse que queria tomar posse.
- Posse de quê? - perguntaram-lhe.
- De tudo. De qualquer coisa. Eu quero é tomar posse.
- Todos os cargos estão ocupados. O senhor chegou tarde.
- Atrasei-me por causa da greve dos alfaiates, pois eu não podia tomar posse com uma roupa qualquer. Agora estou convenientemente trajado e venho empossar-me.
- Já lhe dissemos que não há nenhum posto vago. Não só foram todos preenchidos como há uma relação de 250 mil aspirantes a substituir algum dos titulares que eventualmente se afastar por motivo de reumatismo ou esclerose cerebral.
- Posso inscrever-me como 250 mil e um aspirante. Talvez sobrevenha um terremoto e eu, se der sorte, passarei ao primeiro lugar e finalmente me darão posse.
- Nunca. Todos os terremotos foram previstos, todas as inundações, etc. Escapará muita gente e haverá no máximo vinte substituições em nossos quadros. Portanto, o senhor jamais será aproveitado. Venda o seu terno escuro e passe muito bem.
Voltou para casa e, à falta de outra coisa, tomou posse de si mesmo.

Drummond de Andrade

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