Antes que me torne um eremita completo, ocuparei este espaço para falar e discutir um pouco, com simplicidade, sobre a vida, com suas alegrias e tristezas. Pode ser que acabe falando comigo mesmo. Neste caso, pelo menos prevalecerá a minha opinião.
"Todos os soldados, uma hora ou outra fogem. A questão é a rapidez com que retornam."
Wellington
Um comentário:
wartão
disse...
CARLOS DRUMOND DE ANDRADE -A VOLTA DO GUERREIRO Os homens que voltaram da guerra traziam feridas e pesadelos. Encontraram suas amadas indiferentes. Passara tanto tempo que algumas nem se lembravam deles, e muitas tinham estabelecido novos amores.
Uma, entretanto, permaneceu lembrada e fiel, e atirou-se com fúria passional aos braços do ex-guerreiro. Ele a repeliu, dizendo: ― Não quero mais ver a guerra diante de mim. ― Eu não sou a guerra, sou o amor, querido ― respondeu-lhe a mulher, assustada. ― Você é a imagem da guerra, você me agarrou como o inimigo na luta corpo a corpo, eu não quero saber de você. ― Então farei carícias lentas e suaves. ― O inimigo também passa a mão de leve pelo corpo do soldado caído, para tirar o que houver no uniforme. ― Ficarei quieta, não farei nada. ― Não fazer nada é a atitude mais suspeita e mais perigosa do inimigo, que nos observa para nos atacar à traição.
Separaram-se para sempre.
Comentário: Este é mais um texto do livro "Contos Plausíveis" de Carlos Drummond de Andrade - você pode checar, se quiser, o conto "A Opinião em Palácio". Achamos que numa leitura rápida muitos podem achar o texto sem sentido e até mesmo bobo. Mas é por isso que nós o escolhemos. Numa primeira leitura, superficial e desinteressada, a única coisa que sobressai, além da linguagem do autor, é o tom bem-humorado do texto. Entretanto, há mais coisas a serem entendidas, coisas que requerem uma segunda, terceira ou até mesmo quarta leitura. Achamos que a importância desse conto - foi por isso que postei - é esta. Cada vez mais, os leitores se acostumam a textos em que o sentido já vem inteiramente mastigado, às vezes até como uma grande lição de moral. Talvez, inclusive, seja por isso que muitas produções que recorrem a lugares comuns têm alcançado grande sucesso.
Na nossa opinião, este pequeno conto de Drummond nos mostra o exato oposto. Ele é curto, mas você pode retirar dele inúmeras lições, pode perceber diversas situações e conflitos diferentes em tão poucas linhas - talvez seja o lado poético do autor tomando conta de sua prosa. Publicado no blog Na Ponta do Lapis por Leonardo Schabbach em 18/08/2009.
Um comentário:
CARLOS DRUMOND DE ANDRADE -A VOLTA DO GUERREIRO
Os homens que voltaram da guerra traziam feridas e pesadelos. Encontraram suas amadas indiferentes. Passara tanto tempo que algumas nem se lembravam deles, e muitas tinham estabelecido novos amores.
Uma, entretanto, permaneceu lembrada e fiel, e atirou-se com fúria passional aos braços do ex-guerreiro. Ele a repeliu, dizendo:
― Não quero mais ver a guerra diante de mim.
― Eu não sou a guerra, sou o amor, querido ― respondeu-lhe a mulher, assustada.
― Você é a imagem da guerra, você me agarrou como o inimigo na luta corpo a corpo, eu não quero saber de você.
― Então farei carícias lentas e suaves.
― O inimigo também passa a mão de leve pelo corpo do soldado caído, para tirar o que houver no uniforme.
― Ficarei quieta, não farei nada.
― Não fazer nada é a atitude mais suspeita e mais perigosa do inimigo, que nos observa para nos atacar à traição.
Separaram-se para sempre.
Comentário: Este é mais um texto do livro "Contos Plausíveis" de Carlos Drummond de Andrade - você pode checar, se quiser, o conto "A Opinião em Palácio". Achamos que numa leitura rápida muitos podem achar o texto sem sentido e até mesmo bobo. Mas é por isso que nós o escolhemos. Numa primeira leitura, superficial e desinteressada, a única coisa que sobressai, além da linguagem do autor, é o tom bem-humorado do texto. Entretanto, há mais coisas a serem entendidas, coisas que requerem uma segunda, terceira ou até mesmo quarta leitura. Achamos que a importância desse conto - foi por isso que postei - é esta. Cada vez mais, os leitores se acostumam a textos em que o sentido já vem inteiramente mastigado, às vezes até como uma grande lição de moral. Talvez, inclusive, seja por isso que muitas produções que recorrem a lugares comuns têm alcançado grande sucesso.
Na nossa opinião, este pequeno conto de Drummond nos mostra o exato oposto. Ele é curto, mas você pode retirar dele inúmeras lições, pode perceber diversas situações e conflitos diferentes em tão poucas linhas - talvez seja o lado poético do autor tomando conta de sua prosa.
Publicado no blog Na Ponta do Lapis por Leonardo Schabbach em 18/08/2009.
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