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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

PRESENTE DO PAI



Com o passar dos anos vai ficando complicado presentear os pais. Eles já têm tudo. Gastam pouco ou nada de roupas. Gostam sempre das mesmas coisinhas. Não abandonam o chinelo gasto. As mesmas camisas e blusas.
Pais não têm vaidade. Guardam blusas que ganharam no dia dos pais do ano passado e nem usaram ainda.
Ah, uma coisa fica facilitada: suas roupas não mudam de tamanho. Não engordam e nem emagrecem.
Acontece algo estranho com os pais que gostam de ler e de ouvir músicas: eles não querem mais ler livros novos e ouvir músicas novas. Preferem reler os velhos livros e ouvir as mesmas antigas e lindas canções.
Perguntei ao meu Velho a razão dessa preferência. Sua resposta foi definitiva: - "Estes livros e discos têm muito mais do que letras, histórias e sons. Eles têm momentos".
Me derrubou.
Para eles tudo está bom. Quer incomodá-los ? É só insistir questionando sobre o que gostariam de ganhar. A resposta é básica: - "Quero que vocês estejam bem e se puderem vir para almoçarmos juntos, ficarei feliz. Mas se não der, não tem problema, estaremos pensando um no outro".
No final, sempre acontece o inverso: o velho pai é que termina dando presentes para os filhos.
O presente que eu mais gostava de receber do meu pai eram as suas histórias.
Religiosamente as mesmas, porém jamais contadas do mesmo jeito. Eram aprimoradas e o impressionante, que reduzidas as palavras, ficavam mais ricas em detalhes, com as pausas maiores, suspiros e olhares ao longe.
Nunca escutei os "causos" do meu pai por obrigação ou simplesmente para agradá-lo. Eu contava com aqueles momentos. Fazem muita falta.
Ficávamos ao redor extasiados. De vez em quando a mãe tentava acelerar dizendo : - "Bem... termina logo com isso". Era bom demais.
O que judiava da gente era aquele olhar doce e marejado de lágrimas, quando no final do domingo nos despedíamos para voltar prá casa.
Se não fosse pelos meus filhos eu "pulava" o dia dos pais.

Escutem quietinhos:



ER

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