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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O ABRIDOR DE LATAS


Quando esta história se inicia já se passaram quinhentos anos, tal a lentidão com que ela é narrada. Estão sentadas à beira de uma estrada três tartarugas jovens, com 800 anos cada uma, uma tartaruga velha com 1200 anos e uma tartaruga bem pequenina ainda, com apenas 85 anos.
Vinte e oito anos depois do começo desta história a tartaruga mais velha abriu a boca e disse:
- Que tal se fizéssemos alguma coisa para quebrar a monotonia da vida ?
-Formidável, disse a tartaruguinha mais nova, 12 anos depois. Vamos fazer um pique-nique ? Vinte e cinco anos depois as tartarugas decidiram a realizar o pique-nique. Quarenta anos depois, tendo comprado algumas dezenas de latas de sardinha e várias dúzias de refrigerante, elas partiram. Oitenta anos depois chegaram a um lugar mais ou menos aconselhável para um pique-nique.
- Ah - disse a tartaruguinha 8 anos depois - excelente local este ! Sete anos depois todas as tartarugas tinham concordado. Quinze anos se passaram e, rapidamente elas tinham arrumado tudo para o convescote. Mas, súbito, três anos depois, elas perceberam que faltava o abridor de latas para as sardinhas.
Discutiram e, ao fim de vinte anos, chegaram à conclusão de que a tartaruga menor devia ir buscar o abridor de latas.
- Está bem - concordou a tartaruguinha três anos depois - mas só vou se vocês prometerem que não tocam em nada enquanto eu não voltar.
Dois anos depois as tartarugas concordaram imediatamente que não tocariam em nada, nem no pão nem nos doces. E a tartaruguinha partiu.
Passaram-se cinquenta anos e a tartaruguinha não apareceu. As outras continuaram esperando. Mais 17 anos e nada. Mais 8 anos a nada ainda. Afinal uma das tartarugas murmurou:
- Ela está demorando muito. Vamos comer alguma coisa enquanto ela não vem ?
As outras concordaram rapidamente dois anos depois. E esperaram mais 17 anos. Aí outra tartaruga disse:
- Já estou com muita fome. Vamos comer só um pedacinho de doce que ela nem notará.
As outra tartarugas hesitaram um pouco mas, 15 anos depois, acharam que deveriam esperar pela outra. E se passou mais um século nessa espera. Afinal a tartaruga mais velha não pode mesmo e disse:
- Ora, vamos comer mesmo só uns docinhos enquanto ela não vem. Como um raio as tartarugas caíram sobre os doces seis meses depois. E justamente quando iam morder o doce ouviram um barulho no mato por detrás delas e a tartaruguinha mais jovem apareceu:
-Ah, murmurou ela - eu sabia, eu sabia que vocês não cumpririam o prometido e por isso fiquei escondida atrás da árvore. Agora não vou mais buscar o abridor. Pronto !
Fim (trinta anos depois)
Moral: Apressado não come nem cru.
(Millor Fernandes)
Blog: Essa parábola do genial Millor, me irrita.
ER

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