Translate

sábado, 31 de julho de 2010

IMPARCIALIDADE

A imparcialidade é uma atitude desonesta. De duas uma : ou o imparcial está mentindo, traindo acaso as suas mais legitimas preferências, ou então não passa de um exacto robô, mero boneco mecânico sem opinião pessoal, sem nada de humano.
Aquela frade de Voltaire, tão citada: " Não creio numa palavras do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de dizer", é uma das coisas mais demagógicas que alguém já poderia ter proferido; se achamos que algo é nocivo, meu Deus, como dormir tranquilos sem evitar a sua propagação ? Felizmente para Voltaire, a sua vida toda foi um desmentido a isto, e até hoje nos admiramos a sua corajosa parcialidade.
Quem começo a desmoralizar o conceito de imparcialidade, se não me engano, foi Pôncio Pilatos, que apenas desempenhou uma pontinha na história... Mas que pontinha !
Todavia, a verdadeira imparcialidade não deve ser essa de Pilatos, tão cômoda e tão cara aos hedonistas. Mas sim a proclamação da verdade própria, ou da própria verdade, antes, acima e apesar de tudo. E como o leitor em geral adora fatos e boceja com ideias, exemplifiquemos, para terminar, com dois casos da última guerra:
Von Braun (o pai dos foguetes), quando o instaram para que apressasse, inventasse, descobrisse, o quanto antes, por motivos óbvios, uma nova bomba voadora, respondeu aos chefes nazistas: "Que importa quem ganhe a guerra ? Eu quero é ir a lua."
E, por sua vez, o prefeito de Nagasaki, Tsume Tajawa, após o bombardeio atômico de sua cidade, declarou: "Se o Japão possuísse o mesmo tipo de arma, te-la-ia usado.
Eis aqui duas imparcialidades: uma subjetiva, a outra objetiva, uma idealista, a outra realista.
Só resta discutir o que você teria feito se estivesse na pele de Pôncio Pilatos.
(Mário Quintana - 1994)

Nenhum comentário: