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sexta-feira, 18 de junho de 2010

VIVENDO E APRENDENDO


Dias atrás fui convidada a participar de um Seminário na Assembléia Legislativa de São Paulo. Era um evento do Espaço Mulher e o tema era "A Mulher atual".
A presidente do evento convidou-me, porque leu meu livro e queria meu depoimento. Pediu que eu falasse como ser uma dona de casa "antenada".
Arrumei-me e me dirigi para lá, precisamente no dia 11 de novembro de 2009. Cheguei um pouco receosa, pois não sabia exatamente de que se tratava o tal Seminário.

A presidente recebeu-me com cordialidade e me conduziu até uma cadeira confortável, com microfone e mesa para anotações. A sala era bem equipada e própria para esse tipo de evento.
Aos poucos os participantes foram chegando e cada um deles era encaminhado para uma cadeira igual a minha.

Precisamente as 14horas deu-se a abertura e composição da mesa.
Depois vieram as apresentações dos participantes em forma de Dinâmica de Grupo. Cada qual falava seu nome e completava com o que tivesse vontade de falar.
Diante de tantos títulos e cargos de destaque, minha cabeça começou a dar mil voltas.
- O que eu poderia falar?
- Só tenho curso de Magistério e de Filosofia e depois que me casei não exerci nem um dos dois.
Mas...não podeia fazer feio.
Ao chegar a minha vez peguei o microfone e disse com a voz bem firme:
- Meu nome é Maria Bernadete e meu apelido é Bah. Venho do interior de Minas Gerais. Sou casada há 35 anos, "com o mesmo marido", (risos...) tenho um casal de filhos "do mesmo marido", (mais risos...) já adultos e para não adquirir a doença Síndrome do Ninho vazio resolvi escrever um livro. Tinha que fazer alguma coisa e continuar antenada no mundo UAI. (Mais risadas)
Depois do burburinho causado, as apresentações se sucederam e o seminário, por sinal muito interessante, transcorreu normalmente.
Ao término nos dirigimos para o cafézinho de praxe. Ali, trocamos idéias sobre o mesmo e nos aproximamos uns dos outros para a troca de idéias.
O PHD da PUC, que não me lembro o nome, veio falar comigo, se interessou pelo meu livro e como eu tinha levado um exemplar, ele já ficou com ele. Então ele apresentou-me um Frei que estava com ele:
- Bah. Este é frei Andrevich. Meu amigo há 42 anos. Pessoa maravilhosa, que fez meu casamento, batizou meus filhos e se tornou meu grande amigo.
- Muito prazer. Eu disse.
- O prazer é meu. Respondeu ele.
- Ouvi você falar do seu livro. Gostaria de adquirir uns exemplares para a Biblioteca do Colégio Santo Inácio. Você tem alguns exemplares aqui?
- Infelizmente não tenho, mas vou deixar meu telefone com o senhor. Liga-me, passe o endereço que coloco no correio.
- Está bom. Disse ele anotando meu telefone. Ligarei.
Despedimos-nos e voltei pra casa. Esqueci-me completamente do frei.
Passados dois meses toca o telefone.
- Alô!
- Alô. Aqui é frei Andrevich. Gostaria de falar com a Bah.
- Sou eu Frei. Tudo bem? Lembrei-me dele no mesmo instante pelo sotaque espanhol e pelo nome raro.
Tudo bem. E com o senhor?
- Tudo bem também.
- Só liguei agora porque estive viajando. Passei o Natal e o Réveillon em Miami.
- Que bom!
- Gostaria de pegar os livros, disse-me ele.
- Não quer que eu coloque no correio para o senhor?
- Não. Quero que você autografe com uma caneta que trouxe pra você de Miami. Vou pessoalmente buscá-los.
E eu, baseando nas apresentações do amigo dele convidei-o a vir até minha casa e tomar um café com meu marido, que nas sextas feiras sempre está em casa.
Ele então me respondeu que não. Que preferia uma padaria ou um café próximo da minha casa, porque queria falar sobre vários assuntos, inclusive falar sobre a possibilidade de encaminhar meu livro para o dono de uma Editora famosa que era amigo dele.
Sem pensar muito aceitei o convite e marquei as 15horas, em frente a Santa Etienne, padaria que fica a um quarteirão da minha casa.
Disse a meu marido que era rápido e ele então me disse: - tudo bem, vá tranqüila.
Arrumei-me, fui até a padaria e o frei já estava lá. Na verdade eu nem me lembrava do rosto dele. Ele que me reconheceu. Gentilmente pediu que eu escolhesse a mesa, puxou a cadeira e pediu dois cafés.
Enquanto saboreávamos aquele líquido fumegante conversamos sobre vários assuntos. Ele é muito culto. Em seguida, ganhei a caneta. Linda! Foliada a ouro e tudo.
Ele então pegou os livros, pagou, pagou a conta e nos preparamos para sair.
Lá fora estava caindo um temporal, desses que caem todas as tardes de verão em São Paulo.
O frei então me disse: - Bah, entra no carro que te deixo em casa. Meu carro está aqui do lado.
- Não precisa frei, é só correr alguns metros.
- Faço questão. A chuva está muito forte.
Então aceitei a carona. Corremos para o carro e depois de trancado ele o ligou. Saiu devagar porque estava chovendo muito.
Nem bem o carro começou a andar o frei, que até àquela hora me passou muita credibilidade, começou a me agarrar. Puxava-me para perto dele e começou a me abraçar, dar beijos em minhas mãos e a olhar-me de um jeito esquisito. Fiquei tremendo de medo, pois o carro estava em movimento e os vidros embassados por causa da chuva forte que caía.
Coloquei minha cabeça para funcionar: que fazer numa hora dessas? Em segundos a solução surgiu: olhei para ele com uma cara de quem lhe prometia o mundo e lhe disse: - frei! Surgiu-me uma idéia maravilhosa... O que o senhor acha (ele tem por volta de setenta anos) de aproveitarmos a tarde e irmos para qualquer lugar aconchegante, onde possamos ficar mais a vontade?
- Ótima idéia! Disse ele todo feliz, aprumando o corpo no banco do carro.
Mas, tem uma coisa, disse-lhe com firmeza: - eu preciso passar em casa e deixar um recado na portaria. Assim, poderemos ficar mais tranquilos, sem hora pra voltar..
- Avisa pelo celular. Disse-me ele.
- Não estou com o celular aqui. Mas é rápido.
E ele então, desceu a minha rua e perguntou: Qual é o seu prédio?
E eu apontei para o primeiro prédio do quarteirão. Ele então parou o carro.
Ainda chovia torrencialmente. Desci do carro e... debaixo daquela chuva, com o corpo todo molhado, olhei bem nos olhos dele, dei-lhe uma banana bem dada e abanei as mãos para ele como que dizendo: - vai embora seu idiota.
Ele, meio atordoado ainda ficou parado sem sair do lugar, enquanto eu, me enxarcava na chuva até que ele saiu cantando pneus.
Éh!...Por mais que os anos passem, ainda tenho muito que aprender. Mas...como eu poderia desconfiar de um frei que fôra tão bem apresentado?
Como poderia imaginar que um lider da minha religião tivesse uma atitude dessas?
Como já recomendava meu pai: - Padre também tem o sexo embaixo da batina. Todo cuidado é pouco.
Viver é muuuuuito perigoso!

Bah









2 comentários:

Anônimo disse...

Narrativa preventiva e corajosa, pois quem passa por tal, geralmente, restringe o fato aos mais intimos.

Edson Riera disse...

A Bah é uma mulher (todas de sua família) são corajosas. Ainda existem idiotas que confundem a educação e gentileza das mulheres. Isso deve acontecer sempre. Canalhas estão por todos os cantos.

edson