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sexta-feira, 25 de junho de 2010

ELES DISSERAM...


Carlos Drummond
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o reude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sózinho, a luz apagou-se
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice ?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbado o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
Drummond

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