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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ROMARIA PARA APARECIDA OU CRUZEIRO ?


Quando o Nagib comprou um caminhão para levar romarias para Aparecida do Norte, deixou todos céticos. Apesar de variar muito de ramo de negócios, a criação de porcos, nas Anhumas, caminhava bem.
Comprou as lonas para cobrir os passageiros e mandou aplainar e pintar as táboas que serviriam de bancos, que eram colocadas momentos antes das viagens.
Pagou para alguém pintar algumas faixas de algodão (seriam fixadas nas laterais do caminhão, quando das viagens) com os dizeres: "O povo da Boa Vista saúda a Padroeira" e na sequência citava outros bairros da cidade.
Diariamente passavam pela cidade muitos caminhões levando romeiros para cumprir promessas na Aparecida.
Passavam cantando a "Ave Maria" e atirando sabugos de milho verde, cascas de laranjas e de melancias pelas ruas e estradas. Era até bonito !
Na subida da serra, costumavam baixar as lonas laterais para proteger o pessoal do frio, que era constante na Mantiqueira.
A subida da serra de Piquete era lenta e bem lá no alto a Barreira de Fiscalização de Minas e do outro lado da divisa, a fiscalização de São Paulo.
Imperava a rivalidade entre os fiscais dos dois Estados, cada lado procurando ser mais rigoroso que o outro. Sem Nota Fiscal não passava nada.
Uma das razões desse rigor era a existência de um grande frigorífico produtor de banha de porcos enlatada, na cidade de Cruzeiro, logo no pé da serra do lado Paulista, bem como a grande produção de suínos do lado mineiro.
O Nagibão passou a levar romaria de três a quatro vezes por semana. Quando passava pelas barreiras de fiscalização, os fiscais que já o conheciam de estripulias passadas, comentavam:
Ê Sô Nagib... Criou juízo o homem... Agora só faz o bem !
No que o outro completava: Põe sentido como os romeiros dele cantam afinadinhos !
O Nagib foi ficando cada vez mais rico.
"O dificultoso", ele falava para a sua mulher, é colocar a porcada em cima do caminhão.
Depois e só baixar as lonas, amarrar as faixas de saudação para a Padroeira, cuidando para não repetir muito o nome dos bairros.
No alto da serra, é ligar o gravador com a música na altura máxima, tirando a lona da frente das cornetas, para o som espalhar bem.
Tudo sem Nota Fiscal é claro, com destino a Cruzeiro.
ER


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