Translate

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O SUSTO FOI GRANDE !


Dona Durvalina lavava e passava roupas dos estudantes em diversas "repúblicas" da cidade.
Muito séria e responsável tinha a admiração de todos. Em nenhuma hipótese ela aceitava trabalhar aos sábados e domingos (e em especial no dia 23 de junho).
Nos sábados e domingos cuidava da sua casa e de sua família (era viúva) e no dia 23 de junho, véspera de São João recebia as pessoas amigas para tomar quentão e comer pastel de milho. Promessa feita ao marido, que claro, chamava-se João.
Sanfona não faltava (era um trio, com acordeão, zabumba e triângulo.)
Pela 22.00 hora chegamos em oito estudantes de engenharia como convidados de honra e atravessando a sala, onde as pessoas dançavam, fomos diretos para o pequeno quintal, onde no centro, crepitava uma fogueira.
Casa lotada com pessoas simples e cordiais.
Dona Durva, como a chamávamos, deixou a disposição do nosso grupo uma chaleira de quentão e um bandeja com pastéis de milho, constantemente reabastecida.
Num determinado momento reparamos a ausência do Marcos, que metido a conquistador já estava dançando com a única moça bonita presente.
Tempo passando nós papeando e o Marcos dançando. Agora já de rosto colado.
Passadas uma duas horas, o Miguelzinho mecânico, meu amigo de infância, que também estava presente na festinha, deu um sinal querendo falar comigo.
Saí lá fora da casa e já na rua nos cumprimentamos e eu disse: E aí Miguel, o que você manda ?
Disse ele: Zé, o cara que está dançando com a Shirley é seu amigo ?
Eu indaguei: Que Shirley ?
Ele olhando pela janela entreaberta, indicou: Aquela moreninha bonita. Era o Marcos, já trocando uns beijos com a identificada Shirley.
Pensei comigo. Deve ter algum namorado ou ex-namorado da menina enciumado e o Miguel veio alertar sobre a possibilidade de alguma encrenca.
Eu avancei: Tudo bem Miguel, o cara é boa gente. É nosso amigo e se chama Marcos.
Chegando mais próximo ao meu ouvido, o Miguel adiantou, quase que cochichando: Avisa o seu amigo que a menina tem ataques e isso de muito perto, pega.
Nós éramos estudantes de engenharia, não de medicina e a informação caiu como uma bomba.
Deixa comigo Miguel, eu resolvo isso.
Entrei na casa e ao atravessar a sala dei um toque no ombro do Marcos. Ele deu uma olhada de soslaio e já falou seco: Vocês não conseguem nada e já estão me enchendo o saco. Insisti e ele disse: Agora estão tocando "dominique", a minha música.
Virei de costas e fui lá para o quintal.
Tomando mais um quentão, contei o caso para o pessoal.
O Darly Guedes, sempre o mais preocupado, entrou na sala e tentou falar com o Marcos. Foi recebido com um "vá a merda".
Pelas três horas da manhã, saimos todos para ir embora e tomamos conhecimento que o Marcos bem abraçadinho, tinha ido levar a mocinha em casa.
Como o caso nos parecia de vida ou morte, ficamos debaixo de um poste de luz, com um frio de lascar e a neblina baixando, esperando o retorno do nosso Dom Juan.
Passados uns quinze minutos ele chegou já dividindo. PQP, vocês não me deram sossego! A menina é linda .
Disse eu: O seu "besta", nós só queriamos avisá-lo que ela tem um "negócio que pega". E lhe explicamos, colocando mais veneno na conversa.
Queremos ver como você irá beijar a sua namorada. Toda a família vai ter ataques.
O galã entrou em pânico. Vocês tinham que ter insistido mais, choramingava ele. A minha vida acabou. Isso não tem cura !
Saímos caminhando até a urgência do SAMDU, que ficava no bairro da Boa Vista.
O Cobrinha, enfermeiro de plantão acordou o Dr. Adilio, que receitou gargarejo com álcool e depois um gole grande de álcool misturado com creolina (assim me pareceu pelo aroma).
Mandou-o que fosse para casa, não tocasse em nada, colocando a roupa de molho com duas pedras de anil.
Em seguida tomasse um banho de chuveiro caprichado, esfregando-se com sabão de cinzas.
Recomendou que não beijasse ninguém por trinta dias. E assim foi.
Passado uma semana e o susto, eis que encontro na porta da Igreja São José, o Miguelzinho de maõs dadas com a mocinha (Shirley).
Afastando-se um pouca da bonita moça, ele disse: Zé me desculpe mas foi o jeito que eu achei.
Eu gosto dela prá caramba.
Casaram e nem sombra de ataques.
Desse final ninguém ficou sabendo.
ER








2 comentários:

Bah Gorgulho disse...

Oi Zézinho
Que história!..
Será que pelo amor vale tudo?
Você percebe que tudo o que se faz na vida, mais cedo ou mais tarde vem a tona?
O importante é saber se eles foram felizes e se valeu a luta.
Um abraço

wartão disse...

Zé, essa eu ainda não conhecia. Imagino a cara do Darly e a sacanagem que Vocês fizeram depois dessa.
Muito boa.
Abs.