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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CHAMADA DO ALÉM



Eu estava lá. Tempos atrás, estive no sepultamento em São Paulo de um empresário meu conhecido. Aconteceu num desses cemitérios modernos, mais parecido com um jardim.
Só não me digam que existe cemitério bonito ! Impossível descolar a bucólica paisagem das lembranças que inevitavelmente passam pela cabeça,em especial, a doída saudade.
Não querendo interromper, mas interrompendo, conheci um rapaz numa situação curiosa: Disse-me ele que nunca tinha perdido por falecimento alguém em sua vida. Quando ele nasceu, seus avós já haviam falecido. Os tios, primos, etc, eram todos vivos. Sempre teve poucos amigos e não se lembrava da morte de nenhum.
A única morte que lhe tocou um pouco e assim mesmo de longe, fora a do Senna.
Voltando à "vaca morta", quero dizer, ao acontecimento inicial.
A família estava conformada e os presentes vinham com aquele papo furado: Descansou...
Pois bem... desceram o caixão e todos os mais próximos (eu não conhecia esse ritual),colheram um pouquinho de terra no chão e a lançaram sobre a urna funerária.
Um Senhor grandão, com cara e cabelos de cantor de tango se aproximou e, ao agachar para coletar o volume de terra, seu celular escorrregou de mansinho do bolso da camisa indo parar no fundo da cova.
Creio que somente eu notei.
Pareceu-me ser um desses aparelhos caros, com mil e uma utilidades, e que também recebe e faz ligações para outras pessoas.
O sujeito olhou para os coveiros (eram dois) que não viram nada. Olhou para um, olhou para outro e nada. E terra em cima.
O Padre recitava as últimas palavras, quando o celular tocou, imaginem!... o hino do Corintians.
O dono do aparelho, conformado com a perda, sumiu por uma ruela.
Mal estar geral e terra em cima.
O som foi ficando mais abafado e foi sumindo, sumindo, até desaparecer.
Eu, de saída, ouvi uma senhora loira comentando com o marido: Puxa! que singela homenagem ! No que o marido arrematou: homenagem foi a PQP. O Armando era Verdão roxo.
ER

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