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domingo, 17 de janeiro de 2010

DIRETO DE PARIS

Caro Zé,
Sempre imaginei uma França mais ligada ao Haiti. Não é, apesar da presença direta dos franceses como colonizadores, ou dominadores, ou exploradores,ou o que quer que seja.
Até mesmo aqui na França, onde ainda me encontro, não pegou bem, vamos dizer assim, a primeira reação pública do Presidente Sarkozi sobre a tragédia do Haiti.
De imediato, ele sugeriu a formação de um Conselho, constituido por alguns Países, entre os quais citou o Brasil, para estudar a questão Haitiana.
Todos sabem que o momento é de ação, não de conversa. Trata-se de sofrimento e de vidas.
Já conversamos em várias ocasiões sobre o Haiti, ou como vem sendo chamada "A Ilha do Fim do Mundo". É injusto porque o Haiti divide a Ilha com a Republica Dominicana.
E lembrar que a Ilha, que abriga os dois Países, já foi chamada de "A Pérola das Antilhas".
Aliás, um pouco de história. Em Arawak, lingua dos nativos da região, Ayiti significa "terras altas".
Este País nunca conheceu paz e tranquilidade em toda a sua existência,nem mesmo quando em 1492, e a Ilha era conhecida por Hispaniola, Cristovão Colombo instalou uma Capitania em Ayiti. Na época, exploravam o ouro utilizando os nativos como escravos.
No século XVI começaram a cultivar cana-de-açucar. Para isso, inicialmente, foram trazidos da África 30.000 escravos. Em 1697 se tornou possessão francesa, com o nome de Saint Domingue.
No século XVII a população era constituida de:
40.000 - Brancos ricos, Funcionários franceses e brancos pobres.
28.000 - Mulatos
452.000 - Escravos
Repare na proporção ! Em 1791 aconteceu a primeira revolta. Foi abafada em 1801 por Napoleão, que enviou para lá 28000 soldados e mercenários.
Em 1804, o Haitiano Jean-Jacques Dessalines declarou a independência do Haiti. Foi a primeira na América Central e do Sul. Em 1824, a França reconheceu a independência, exigindo porém uma indenização violenta em dinheiro que complicou para sempre a vida do Haiti.
A guerra interna foi terrível de 1804 até 1915, com várias mudanças no poder.
De 1915 até 1934, aconteceu a intervenção americana.
De 1934 até 1956, revoltas e mais revoltas internas, com violações dos direitos permanentes.
De 1957 até 1986, ditadura violenta de François Duvalier (Papa Doc) e de seu filho e herdeiro (Baby Doc), sendo que este foi deposto por militares em 1986 e recebeu asilo da França. Foi morar no litoral francês com 120 milhões de dólares nos bolsos.
De 1986 a 1990 - Uma série de golpes militares, com mortes, prisões e corrupção desenfreada.
Em 1991 - Chegada das tropas da ONU para tentar colocar ordem na casa.
Miséria, miséria e miséria. 80% da população vive com menos de R$ 5,00/dia.
O maior índice de corrupção do mundo. Quase toda a ajuda mundial recebida é desviada.
Neste interim, acima exposto, dezenas de terremotos e uma infinidade de furacões assolaram o Haiti.
A magia negra prevalece. Impera o Vodu, que atemoriza a população.
Estimam em 200.000 mortos no último terremoto. Estas pessoas estavam vivendo ?
É uma oportunidade, embora triste, para o mundo voltar os olhos para o Haiti. É uma chance que Deus está nos oferecendo.
Um outro Haiti tem de ser repensado.
Por absurdo que seja, trata-se de um País que conseguiu "liberdade" cedo demais.
José Tipica (filósofo da Boa Vista)
ER

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