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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A HERÓICA BANDINHA DE MÚSICA

A Bandinha, também chamada de "furiosa" era composta por 18 esforçados músicos e estreava o fardamento novo, na cor cinza ratinho, gentilmente doado pela fábrica de tecidos. Foi um gesto nobre dos empresários, mas erraram em mandar todos de um tamanho só. GG.
Como os uniformes foram entregues no sábado a noite e o concerto seria no domingo pela manhã, não deu tempo para os ajustes tão necessários.
Foram para a praça, mais parecendo um bando de prisioneiros da segunda guerra mundial.
O importante é que as 8:30 do domingo já estavam na Praça, devidamente sentados nas cadeiras cedidas pela Câmara Municipal.
A manhã estava fria e a presença de um insistente vento, tão comum no mês de agosto, espantou o publico. Se havia umas 10 pessoas para ouvir a Bandinha, era muito.
Com o "Seu"Juca no piston e atuando também como maestro, sapecaram prá começar, 'Saudades de Matão", num ritmo indefinido, situado entre o dobrado, a valsa e o rala alguma coisa.
Na primeira estrofe da música, o vento frio se fez presente com uma forte lufada. Para que ?
A partitura do clarinetista, Sr. Olimpio, que também era torneiro mecânico e treinador de futebol, alçou vôo e foi parar a uns dois metros de distância.
Ele não se apertou. Levantou-se imediatamente e foi até a partitura, sem parar de tocar. Como enxergava mal, agachou-se para ler melhor. Atenção: Sem interromper a música.
Os poucos assistentes presentes deram a maior demonstração de falta de solidariedade já vista. Ninguém se mexeu para socorrer o músico, que continuava tocando agachado, já um pouco distante dos companheiros.
Vejam só: Nova lufada de vento e a partitura foi parar a uns dez metros adiante, próximo à Casa Renny.
Nova corrida do Sr. Olimpio, que agora precavido, pisou na partitura impedindo-a de continuar fugindo.
Ajeitou-se, colocou um dos joelhos sobre ela, aprisionando-a, mais uma vez sem interromper a sua atividade musical.
Foi a cena mais estranha já vista na rica história musical da cidade. A Furiosa dando tudo o que tinha direito no meio da Praça e o clarinetista ajoelhado sobre a partitura na calçada da Loja Renny, soprando no maior capricho. E ninguém socorria.
Teve o lado positivo. Todos os presentes ouviram pela primeira vez, uma espécie de som estereofônico.
Quem chegava naquela hora não entendia nada. Não sabia se olhava para a banda ou se olhava para o clarinetista ajoelhado a uma certa distância.
Foi até o fim da "Saudades de Matão".
Quando terminou a música, levantou-se, apanhou a partitura meio suja com um chicletes de bola ping-pong grudado e voltou para a sua cadeira.
Ainda levou uma bronca do "Seu" Juca Maestro.
Eu estava lá e só não ajudei porque apreciei o inusitado da situação.
ER

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