SR. JOAQUIM VENDE O CAMINHÃO

Fazia tempo que não via o Sr. Joaquim, também não via o caminhão, e os dois juntos, há séculos.

Encontrei-o, comendo um pastel do Sr. Tião. Aliás era uma pastel famoso, pois você fazia o pedido, indicando com quantas libras gostaria (era pastel de vento, chamado de capotão).

E aí Sr. Joaquim ? E o possante ?

Você não está sabendo ? Dispus (disse assim mesmo) do bicho em Guaratinguetá, já tá para mais de dois meses.

Por que, indaguei preocupado com o inevitável fim das histórias.

Ele deu a primeira mordida no pastel e o vento liberado deu uma desarrumada nos seus poucos cabelos. Pausadamente, disse:

Foi risco de vida. Eu estava indo levar uma carga de lenha para Guará, indo comigo o Marron (todos já conhecem). Na descida da serra eu estava desenvolvendo uma boa velocidade e meio distraído, ia dando uns conselhos para o meu ajudante, quando esse me interrompeu dizendo:

Olha seu Joaquim lá na frente vai indo rolando uma roda!

Eu olhei assustado e realmente vi há uns 20 metros na frente, já lá na curva, ia um pneu com roda e tudo.

O Marron gritou, diminui, diminui, que é para eu pegar.

Nisso o caminhão começou a adernar, prosseguiu o Sr. Joaquim. PQP Marron ! Aquela roda é do nosso caminhão!

Bom, disse ele, quebrou a ponta de eixo e tive que pedir socorro em Delfim Moreira. Só que tem uma coisa, a minha paciência esgotou e assim que descarregar vou vender essa merda lá em Guará mesmo. Depois a gente volta de Pássaro Marron.

Dito e feito, á tardinha parou em frente a uma loja de compra e vendas de carros usados em Guaratingueta.

O Sr. Joaquim foi direto: Quanto o Sr. me dá pelo Chevrolet ? O Turco olhou, olhou, deu uma ligada no motor, olhou por baixo, levantou a tampa do motor, conferiu os documentos, resmungou e disse:

Pago à vista. Por dez contos, pode deixar o bicho aí !

O que ????? Dez contos, protestou o Sr. Joaquim. O Sr. está louco ? Pois saiba que só de solda tem mais de 15 contos no caminhão.

Fecharam por dezoito contos.

O Sr. Joaquim terminou de comer o pastel, aspirar o vento quente e temperado e finalizou: Estou com uma saudade danada do tigrão.

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