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sábado, 21 de novembro de 2009

ISSO ERA CHAMADO DE TÁBUA !

Não estou falando de nenhuma peça plana de madeira. Era o episódio mais sentido, mais contundente, mais "vexaminoso "que poderia acontecer a alguém nos anos 60, durante um baile ou uma festa dançante.
Em toda a vida, eu conheci seis caras que levaram tábua.
Dois deles dispensam comentários. Eram caras de pau mesmo e queriam após a tábua, deixarem as meninas atônitas com suas respostas grosseiras (mas engraçadas).
Dois outros, dizem, puseram fim`a vida mais tarde, por não conseguirem se refazer.
Um outro, pela última notícia que tive, totalmente desiludido, entrou para o PT de onde foi tranferido para o MST por sua atitude sempre agressiva (manifestada, segundo a família, depois da tábua).
Só para registro, tem um médico de Itajubá, de origem estrangeira, Dr. Odla, que escreveu um expressivo volume intitulado "A Síndrome da Tábua".
O único ser que conheço, que levou uma tábua e conseguiu se recuperar, mesmo que parcialmente, fui eu.
Gente, para os mais novos, "tábua" é uma forma de crime cometido por uma mulher, ao recusar um pedido de um homen para dançar.
A tragédia aconteceu por ocasião de um baile (com disco), no Grupo Escolar Rafael Magalhães, em benefício da caixa escolar (fundos para comprar sopa para a criançada).
Dez amigos, em pé e encostados num canto do salão, observavam todos os acontecimentos e fofocavam, cada um com o seu copinho de quentão nas mãos.
Eu nunca fui de dançar.Quando muito, um dois prá lá, dois prá cá, e olhe lá. Mas como já deu para perceber, o meu espirito de solidariedade e a minha extrema necessidade de tirar as pessoas da zona de desconforto é marcante.
Depois de uma parada obrigatória para virar o disco, o salão se esvaziou.
Comentei com os amigos: A Auxiliadora( que era uma menina da Boa Vista, vamos dizer assim, não muito beneficiada pela natureza) é metida mas está lá sentada há três horas e ninguém a tirou para dançar; o baile está acabando e irei proporcionar uma alegria para ela, e também fazer uma boa ação.
Você ficou louco, responderam em uma só voz.
Som na caixa. Entrou o "Romanticos de Cuba" arregaçando o "Perfume de Gardênia".
Desembrulhei e coloquei na boca uma bala de hortelã pepermint, mais conhecida como alivia bafo; atravessei o salão, sob os olhares do mundo todo, fui até a Auxiliadora e demonstrando uma burra intimidade que não tinha, murmurei: Dodora, vamos dançar essa?
Não sei o que deu na jararaca. NÃO ! rosnou ela.
Me senti como o Felipe Massa recebendo a mola do Rubinho na cabeça. Após alguns segundos, o sentido me voltou e insisti: Por que ? E ela simples, curta e grossa: Estou cansada...
Bom, alí eu não poderia continuar! Tinha que bater em retirada. Virei, olhei para o bando de chacais que me esperava do outro lado do salão e, com cara de cabo de guarda-chuva, parti.
Foi a distância mais longa que percorri na minha vida. Foram centenas, milhares de quilometros ao som de Perfume de Gardênia. Nunca mais ouvi essa música na minha vida.
Melancólica foi a chegada junto aos chacais. Preparei os dois punhos para agredir o autor do primeiro comentário. Foi pior, muito pior. Ninguém falou um "A". Somente aproximaram-se um a um, como se tivessem combinado, e me deram um tapinha nas costas, como um tipo de condolências.
Cada tapinha era como uma facada nas costas.
Outro dia encontrei Auxiliadora no Supermercado e fingi que não a vi. Parece que se casou com um velhinho aposentado.
Está no fundo do pito. Bem feito.
ER

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