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quarta-feira, 3 de março de 2010

AINDA NÃO ESTAVA PREPARADO !


Como sabem em 2004 num momento de pouca (ou muita) lucidez aceitei ser candidato a Prefeito de Itajubá. Tive como candidato a Vice-Prefeito na chapa, o meu grande amigo e colega, Prof. Paulo César Guimarães, sempre para mim, o "Mugango".
Uma tarde, já próximo das eleições, logo após o almoço fomos de carro (somente ele +eu) para o Jardim das Colinas. Estacionamos na última rua, bem no alto do morro. Nossa intenção era caminhar casa a casa nos apresentando para as pessoas.
Para a nossa surpresa, na última rua tinha pouquíssimas casas e algumas barracas cobertas de plásticos pretos, desses de sacos de lixo.
Sentimos a precariedade do local e em silêncio trocamos olhares pensando em sair disfarçadamente indo para a rua de baixo.
Não deu.
Suando muito e com ar de fadiga, possívelmente em consequência do peso que empurrava e da subida íngreme, chegava uma jovem.
Empurrava um carrinho de madeira, lotado de copos e garrafas plásticas usadas.
Ao ser cumprimentada, nos informou ser catadora de plásticos nos lixos para revenda à reciclagem. Disse ela que, diariamente, saia de casa bem cedo só voltando naquele horário.
Na porta do seu barraco, um casalzinho de crianças, pouco vestidas e sujinhas sairam e se abraçaram a mãe. Com a cena já senti um aperto no coração.
Adiantou ela não ter marido e que as crianças ficavam sozinhas até a sua volta.
Ficamos desconcertados com a situação.
Uma das crianças (uma meninha) remexeu no carrinho de resíduos da mãe, e achando uma embalagem de danone praticamente vazia, com avidez, passava os dedinhos pelo fundo da embalagem e apanhando o restinho, o levava até a boquinha.
Olhei para o Paulo César, que acendendo um cigarro, escapou devagarinho e foi esperar próximo ao nosso carro.
Senti um nó na garganta, um sensação de total impotência, parecia que havia caído sobre mim todos os pecados do mundo. Não sabia o que dizer.
Com um aceno pedi licença para a moça e caminhando para o carro com lágrimas rolando, arranquei de volta para a cidade.
Até deixar o Paulo César na entrada do seu prédio, não trocamos uma só palavra.
Fui para casa achando que não valia a pena a nossa luta. Era desigual.
Eu não estava preparado para ser político. Tinha sentimentos.
No dia seguinte pedi para uma pessoa amiga levar alimentos (danones) e algum dinheiro para aquela família, mesmo sabendo que era pouco e não iria adiantar de nada.
Fomos até o fim e terminamos perdendo, porém não vencidos.
Aquela imagem nunca mais deixou o meu pensamento e continua me entristecendo, pois sei que em outros lugares aquela situação se repete.
Creiam isso não é romance. É verídico.
ER

3 comentários:

Saulo Caridade disse...

O "ainda" continua pretérito, ou já é "estou" ??

Edson Riera disse...

Saulo,
Creio que nunca vou presenciar dificuldades das pessoas em me envolver ou mesmo sentir. Isso para político profissional significa despreparo, falha.
Descobri que posso ajudar, confortando os aflitos e fustigando os confortáveis.
abraço,
edson

Saulo Caridade disse...

É claro que não me referi ao seu espirito cristão e fraterno.

Já, o fustigando os confortáveis eu concordo.