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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

ITAJUBÁ - CAMPINAS COM "LIGEIRA"


Tarde calorenta e viagem complicada. O ônibus levava seis horas de Itajubá até Campinas.
Entrava em todas as cidades, mais ou menos no caminho, desde que tivessem mais de cem habitantes. Parte do trajeto ainda não era asfaltado.
A turma de estudantes ia para o estágio, saindo todas as segundas as 6.00 horas da manhã. Todos emburrados com a viagem.
Em tempo, na época não existia "toilete a bordo".
Um estudante mais gozador mandou uma carta para a diretoria da empresa, sugerindo que trocassem o velocímetro, por uma folhinha (calendário). Nem responderam.
Não haviam sido percorridos seis quilômetros e uma jovem e humilde senhora, se levanta, vai até a frente e cochicha algo no ouvido do motorista. Ele faz sinal positivo com a cabeça e estaciona no acostamento de terra. Todos olham !
A senhora olha para o fundo do cata-jeca e acena com sinal positivo para o marido (imaginamos). O moço, com uma barbicha de petista, levanta e desce acelerado indo de imediato para o mato.
Ar de compreensão geral, desde o motorista até os passageiros. Alguns comentam: Acontece... poderia ser um de nós.
Passam uns cinco minutos (a mulher estava de pé esperando na porta), e o moço voltou. Os dois caminharam para os seus bancos. O rapaz estava com cara de fantasma sem maquiagem.
Segue a viagem.
Mais dez quilômetros e lá está a mulher falando baixinho no ouvido do motorista que, não com tão boa vontade como da primeira vez, encosta o rasga-roupa.
Desta vez, em dois pulos o cara já estava no mato.
Os passageiros coçaram a cabeça, fizeram caretas e um falou baixo, mas todos escutaram: Hoje nós não chegamos a Campinas...
Passam mais cinco minutos e os dois voltam para o banco, com o cara dessa vez, meio que amparado pela mulher. Estava azul.
Segue a viagem, enfim, é a vida.
Mais dez quilômetros e a mulher toda aflita, levanta de novo e repete a operação.
Desta vez o motorista não fez cerimônia e deu um golpe na direção parando o ônibus. O cara desceu do "lesmão" e saltou com facilidade (ou desespero) uma cerca de arame farpado, embrenhando-se no mato.
Murmúrios gerais de reclamação dos passageiros e a senhora de pé na porta olhando para o mato com as mãos na testa, como a estátua do Fernão Dias.
O tempo passando e o motorista tamborilando o volante com dedos, assobiava baixinho uma música que não existia (daquelas próprias para disfarçar).
De repente todos escutam um grito cavernoso vindo lá do mato:
Berrava o rapaz : Maria ! Manda tocar essa merda que eu vou ficar aqui. Eu sou um FDP.
A senhora entrou, foi até o seu lugar, juntou duas sacolas e uma trouxa de roupa e demonstrando nervosismo e talvez vergonha, apeou e o ônibus seguiu viagem.
Me deu um dó...
ER


Um comentário:

Bah Gorgulho disse...

Adorei a história.
Constrangedora e real.
Qualquer um de nós poderia estar no lugar daquele barbicha.